Mais de 70 crianças guineenses resgatadas da mendicidade no Senegal

A Associação dos Amigos da Criança da Guiné-Bissau (Amic) recebeu, desde o início do ano, 76 crianças guineenses vítimas de tráfico, que mendigavam no Senegal, disse o responsável da organização, Laudolino Medina.

“A última criança chegou terça-feira à noite”, explicou o dirigente da Amic.

As crianças, conhecidas como talibés (estudante do Corão), são na maior parte dos casos entregues pelos seus pais a falsos mestres corânicos, que as põem apenas a mendigar, sem lhes dar qualquer instrução.

Laudolino Medina, questionado sobre o aumento do fenómeno, disse que nos últimos meses tem vindo a receber mais crianças da região de Bafatá, do que de Gabu.

“O fenómeno está a aumentar em Bafatá e aumenta também quando o país vive em situação de instabilidade”, afirmou, referindo-se ao facto, por exemplo, de praticamente não ter havido ano letivo em 2018/2019.

A Amic, em 2018, conseguiu resgatar 166 crianças talibés, de nacionalidade guineense, vítimas de tráfico das ruas do Senegal.

Desde 2005, já foram recuperadas 2.263 crianças, a maior parte das quais das ruas de cidades senegalesas.

A presidente do Instituto da Mulher e da Criança, Maimuna Sila, recebeu, na terça-feira, 12 crianças guineenses que estavam a mendigar no Senegal.

“Fomos surpreendidos com a chegada de 12 crianças com idades entre os 10 e os 15 anos”, disse a presidente do instituto, explicando que são crianças talibés, que mendigavam em Dacar, Senegal, e que a organização não-governamental “Empire des Enfants” (Império das Crianças) trouxe sem qualquer identificação.

Nesse sentido, neste momento, a principal ação passa por “ir junto dos serviços de identificação civil para fazer o registo” das crianças.

Maimuna Sila pede celeridade no processo e isenção de custas, porque as crianças foram vítimas de tráfico.

“O tema das crianças talibés é um tema tabu, que deve ser resolvido, e que envolve religião e muitos interesses, mas acredito que deve resolvido”, afirmou.

Para Maimuna Sila, o problema não passa só por devolver as crianças à Guiné-Bissau, mas por criar condições dignas para que aquelas crianças possam continuar no país e ser reintegrados na sociedade.

Fonte: Lusa

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