Altair, o ‘chef’ guineense que encanta Europa com o sushi

Os guineenses não têm o hábito de comer peixe cru, mas Altair Cordeiro, nascido em Bissau há 40 anos, dá cartas em vários países da Europa, como um ‘chef’ de comida japonesa, tendo como especialidade o sushi.

Altair, neto materno de Kumbito, um célebre herói e nacionalista guineense, cresceu no meio diocesano da igreja católica em Bissau, até já estava a trabalhar como técnico da Guiné-Telecom, mas ao rumar à Portugal, nos finais dos anos 90 para cursar línguas, acabou por ir parar à culinária.

“Nunca imaginei que a minha vida seria dedicada à culinária japonesa”, disse à Lusa, em conversa telefónica, a partir da cidade suíça de Lugano, onde há três meses abriu, de raiz, um restaurante de que é o ‘chef’.

Antes de rumar à Suíça, o guineense já havia aberto um outro restaurante no sul da Itália, propriedade de um grupo que o recrutou em Portugal em 2016 com uma proposta tentadora, na qual disse não ter pensado duas vezes.

É o mesmo grupo que o queria em Espanha, à frente de um restaurante, proposta que declinou para seguir antes para Lugano, onde, disse se sentir bem.

“Só esta noite num espaço de três horas demos jantares para 70 pessoas”, contou Altair que se regozija quando casais e crianças pedem para conhecerem o ‘chef’ que preparou os pratos.

Altair Cordeiro já recebeu, em Itália, vários prémios como “sushimen” como se apresenta ao se referir à sua profissão, mas não lhe sai da memória a distinção que lhe foi outorgada pela Nagoya Sushi School do Japão, em 2017, numa gala organizada pela Escola de Hotelaria e Turismo de Lisboa.

Antes de rumar às aventuras de criador de sushi pela Europa, Altair gaba-se de ter trabalhado, em Lisboa, naquele que foi considerado o terceiro melhor restaurante de sushi no mundo, apenas atrás de dois estabelecimentos situados no Japão.

Reconhecimentos à parte, Altair Cordeiro tem como sonho um dia abrir um restaurante de sushi na Guiné-Bissau, país que, disse, ainda tem aversão ao consumo do peixe cru “por falta de informação sobre os benefícios” do gesto.

Para já, Altair disse pretender continuar a ser “um verdadeiro embaixador da Guiné-Bissau” na Europa, ainda que grande parte dos clientes dos restaurantes onde serve sushi nunca saber onde é.

“Os clientes ficam curiosos ao saberem que nasci na Guiné-Bissau, muitos nem sabem onde fica”, declarou o ?sushimen’ que também lamenta a constante instabilidade política no país.

Altair dá cartas nos restaurantes da Europa, mas é em Portugal onde mantêm a família (mulher e três filhos) por considerar aquele país, como “a Guiné, mas com outras condições de vida”.

“Portugal garante-me a qualidade de vida, bom ensino, tenho lá a minha família, os meus amigos”, afirmou Altair, que só se sentirá realizado no dia em que abrir o primeiro restaurante de sushi na Guiné-Bissau.

Fonte: Lusa

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