Mulher do primeiro Presidente da Guiné-Bissau olha para o país com muita tristeza

Lucete Cabral, mulher do primeiro Presidente da Guiné-Bissau, Luís Cabral, vê com tristeza a situação da Guiné-Bissau, salientando que a capital parece uma aldeia e que a cultura foi relegada para último plano.

Aos 80 anos, “doente e cansada”, como a própria fez questão de sublinhar, Lucete Cabral, que vive no estrangeiro desde que o marido foi derrubado por um golpe militar, em novembro de 1980, falou com a Lusa à margem das celebrações do dia nacional da cultura guineense, a 12 de setembro.

Para celebrar a data, Lucete Cabral foi a convidada de honra do secretário de Estado da Cultura, António Spencer Embaló, para assistir à atuação do ballet nacional “Esta é a nossa pátria amada”, fundado pela antiga primeira-dama.

Com visível mágoa, Lucete Cabral pegou no tema do grupo musical “que era a joia do Presidente Luís Cabral” para revelar como vê a Guiné-Bissau no seu todo.

“A cultura foi deixada de lado, mas compram-se armas, compram-se carros de luxo, um ministro tem cinco carros”, observou Lucete Cabral, salientando que talvez porque o seu marido contrariava tudo isso “é que ficou pouco tempo no poder”.

Dando o exemplo do seu estatuto de primeira-dama, Lucete Cabral afirmou que quando ia viajar de férias pagava as passagens do seu próprio salário que recebia enquanto funcionária do Estado.

“Nós fizemos diferente, por isso também não ficamos muito tempo no poder, porque africano gosta de gozar a vida, gosta de roubar (do Estado) gosta de ‘passa sabi’ (boa vida, tradução livre do crioulo)”, defendeu Lucete Cabral.

Sem guardar rancor à Guiné-Bissau, culpando antes os seus governantes, a antiga primeira-dama frisou que não foi para ter o país no atual estado que o seu marido e o irmão, Amílcar Cabral, foram para a luta armada pela independência.

“Vejo a Guiné com muita tristeza. Vejo Bissau como uma ‘tabanca’ (aldeia, tradução livre do crioulo), já não é aquela capital que os portugueses nos deixaram e que toda gente, após a independência, quando vinha aqui, dizia ser um mimo de cidade”, observou.

Para Lucete Cabral, o defeito de alguns governantes foi quando começaram a desinteressar-se pelo povo, passando “a servir-se a si, às suas mulheres e amantes”.

Mesmo dececionada, Lucete Cabral disse que está disposta a dar a sua contribuição, mostrando aos mais novos a sua experiência.

“É meu dever ajudar a nova geração, assim será até morrer”, destacou para reforçar que “a missão é novamente por isto de pé”.

Sobre o ballet nacional, que o seu falecido marido levava para mostrar no estrangeiro em viagens oficiais, Lucete Cabral constata “com muita tristeza”, que volvidos mais de 40 anos desde que foi fundado, estar a passar por dificuldades, ao ponto de ainda utilizarem nas coreografias roupas por si compradas.

Lucete Cabral aceita a modernidade, concorda que se incorpore danças de países vizinhos da Guiné-Bissau, no ballet nacional, mas não admite que se deixe de lado “coisas típicas e maravilhosas”, nomeadamente a cultura balanta ou bijagó, citando duas das várias etnias do país.

“Eu vi uma dança aqui que é tipicamente senegalesa. Aquela de fazer assim (fez sinal com as mãos), até sei dançar aquilo, eu nasci no Senegal. Podemos ir buscar coisinhas, mas temos que realçar o que é nosso. Temos coisas lindas e muito diferentes das desses países da sub-região africana”, observou.

Fonte: Lusa

Foto: MB

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