O legado do nosso vocabulário
Para não cair na normal tentação de todas as minhas reflexões para a Multiplataforma online “SOMOS !” serem apenas de Timor, tomei a liberdade de falarmos da Língua Portuguesa e suas influências à volta de Timor, isto é, nas suas redondezas para lá das suas fronteiras.
O Português, juntamente com o Tétum, são as línguas oficiais de Timor-Leste, mas poucas pessoas sabem que o português é também uma das muitas línguas (não oficiais) de lugares na Malásia ou Indonésia. Em boa verdade, os primeiros portugueses a chegar a estas bandas foram os primeiros a introduzir o cristianismo. Os vocabulários de malaio e do bahasa indonésio têm ainda com a marca lusitana no dia-a-dia de quem por lá nasceu muitos dos quais de uso corrente. São termos militares e religiosos os que mais predominam mas também utensílios domésticos, vestuário e palavras ligadas à alimentação.
O período de domínio português na Malásia teve início em Maláca em 1510 e terminou com a chegada dos holandeses em 1653. A nossa língua já estava de tal maneira enraizada que os holandeses foram obrigados a aprender a mesma para comunicar com os locais. O português nunca deixou de ser falado em Timor e sobreviveu ainda que com tendência a desaparecer em Ilhas como as Flores (Indonésia). Curioso que em “Tugo”, bairro de Jacarta, o críolo português ainda se poderá ouvir falar por algumas familias. O mesmo ainda é praticado pelos cristãos de Maláca, através de um simples diálogo, canções como o fado que fazem questão de mostrar a quem por lá visita, ou através de festividades tradicionais como os santos populares ou dia de Portugal. O S. João é hoje em dia uma atração turística anual por aquelas bandas onde podemos saborear uma ou várias ‘’espécies’’ de sardinha assada e ouvir musica portuguesa pelas ruas do Bairro Português de Maláca.
Um povo a quem o sofrimento passado deu força para aproveitar ao máximo o que de bonito e de bom a nossa vida nos oferece. Não é por acaso que frequentemente ouvimos dos timorenses ao mesmo tempo que vão sorrindo: “A luta continua”!