Maputo: Associação Hodi dedica-se às causas sociais através da arte e cultura
Polana Caniço já foi considerado um dos bairros mais violentos de Maputo. Justamente aí nasceu, em 2014, por iniciativa dos irmãos Elias e Augusto Manhiça e de Eugénio Macuvel , a Associação Cultural Hodi, como uma mensagem de esperança a um sítio onde, à semelhança de tantos outros na capital moçambicana, as crianças abrem precocemente as portas ao mundo da delinquência infantojuvenil.
Com o objetivo de resgatar as crianças e jovens que vivem paredes meias com essa realidade, em que uma das maiores dificuldades continua a ser, por exemplo, o acesso à educação, a associação lançou o programa HodiAfro Swing Kids. Esta iniciativa dá às crianças menos favorecidas a oportunidade de aprenderem as danças e músicas tradicionais moçambicanas. “Notamos que as atividades tornam as crianças mais saudáveis. Estas performances são uma parte importante do desenvolvimento dos jovens, uma vez que aumenta a sua autoestima, conseguem representar as suas raízes históricas e ganham o respeito da família e da sociedade”, explica, à Somos!, Augusto Manhiça, um dos membros fundadores.
“Escasseiam os transportes escolares, há falta de material didático e as infraestruturas das escolas são débeis. As crianças do nosso bairro só têm cerca de 3 a 4 horas de aulas diárias, e depois? Estas dificuldades podem ser minimizadas através do nosso programa. As crianças na nossa associação também aprendem sobre respeito mútuo, a igualdade de género, saúde sexual e como evitar o consumo do álcool e drogas, há toda uma componente pedagógica que queremos incutir no seio dos mais novos”.
No total, a Hodi tem um vasto repertório com cerca de 25 danças tradicionais. A título de exemplo Augusto Manhiça acrescenta que as danças afro-americanas como Lindy Hop e Charleston “conseguem aumentar a alegria e a conexão das crianças em grupo”.
Uma associação, várias atividades
No conjunto de projectos da associação destaca-se ainda o Makwaela Hodi, formado por 14 artistas. A Makwaela é uma expressão de dança que surge na vizinha África do Sul, no trabalho das minas. “As cancões abordam questões ligadas à importância do património cultural, ao VIH/ Sida e seus métodos de prevenção, aos direitos da criança e à exortação a mudanças de comportamento”, acrescenta Augusto Manhiça. O Makwaela Hodi participou por cinco vezes no Festival Nacional de Cultura realizado bianualmente pelo governo de Moçambique.
Moçambique, país de grande diversidade cultural
“De acordo com os últimos registos do Ministério de Educação e Cultura, falam-se mais de 33 línguas de diferentes grupos étnicos, em termos de expressões culturais, segundo dados de 2016, existem mais de mil em todo o país, a nossa maior riqueza é a nossa cultura, queremos que Moçambique seja um marco junto dos outros países”, explica Augusto Manhiça.
Mas este é um trabalho que começa de dentro para fora ”a própria associação tem membros de várias regiões de Moçambique, não somos um povo dividido, a nossa missão é unir todas as etnias”.
São mais de 60 artistas que compõem a Hodi divididos em várias atividades, 30 dos quais fazem parte de uma companhia de Canto e Dança que se dedica “à pesquisa, divulgação e preservação das danças tradicionais moçambicanas juntamente com os seus instrumentos, ritmos, canções e recolha das línguas nativas de Moçambique, num vasto mosaico cultural”, refere o irmão Elias Manhiça, numa região onde o acesso ao emprego “é um problema muito sério” a companhia proporciona aos jovens “ganharem o pão através da participação destes projetos contribuindo, de alguma forma, para o desenvolvimento do nosso país”.
Banda Hodi
Formada em 2009 por jovens moçambicanos, com raízes em ritmos e instrumentos tradicionais, a Banda Hodi ganhou asas e voou até à África do Sul, Brasil e Estados Unidos. Atuou também em vários festivais de música e dança de alguns países europeus e, recentemente, em Macau no âmbito do “Encontro em Macau – Festival de Artes e Cultura entre a China e os Países de Língua Portuguesa”.
A digressão, denominada Yikone (“existimos”, em português), visa divulgar a diversidade cultural de Moçambique em termos de música e danças tradicionais e ainda a massificação da prática do Afro Swing – uma coreografia criada pela Hodi, em 2011, com objetivo de atribuir importância às danças tradicionais moçambicanas através da sua integração nas danças de género Swing.
Para celebrar o regresso a Moçambique, a Banda Hodi realizou, a 25 de agosto, o espetáculo VUMBULUKENE, que serviu ainda o propósito de sensibilizar a sociedade moçambicana para a luta pelo desenvolvimento do país e pela valorização, preservação e divulgação da sua cultura – uma das formas mais viáveis de promover igualmente a imagem do país além-fronteiras.
“Queremos despertar os jovens para o desenvolvimento cultural do nosso país, no fundo é uma mensagem de esperança” diz Augusto Manhiça, enfatizando: “quando iniciámos este movimento, em 2003, éramos ainda crianças, havia muitas pessoas que não acreditavam nele, mas hoje a visão é diferente, temos representado o país da melhor forma que conseguimos. Tudo é possível e é essa imagem que queremos passar”.
Um país de cores quentes, ritmos fortes e sorrisos nos lábios, define Augusto Manhiça, ao mesmo tempo que recorda a surpresa sentida por nove grupos estrangeiros, convidados em março para o festival Mozambique Afro Swing Exchange. “Ficaram muito admirados com a forma como levamos a vida. Estamos longe de uma vida sofisticada [risos], moramos num bairro onde a eletricidade só chegou em 2007, mas estamos sempre cheios de energia e felizes.” O segredo? “Não há, é assim mesmo, não precisamos ser ricos para sermos felizes, desde o momento em que estás vivo, isso já é motivo de comemoração”, apontou.
A Banda Hodi, uma das várias ramificações da Associação Cultural Hodi, foi fundada pelos gémeos Elias e Augusto Manhiça e o ritmo que a caracteriza, o Mandowa, é originário da província de Sofala. Este grupo musical mistura instrumentos tradicionais de Moçambique com outros convencionais. Os seus seis elementos executam instrumentos como: timbila, nhatiti, mbira, toges, viola baixo, guitarra, congas, bateria, entre outros.
Da Associação fazem ainda parte : Lisa Josefsson- cordenadora de projectos de Afro Swing na Associação Manuel Manhiça; Fernando Sitoe e Vasco Sitoe -responsáveis pelo grupo de crianças da Associação e Manuel Zitha – responsável pelo Makwaela Hodi