Museu do Fado celebra 20 anos com novos talentos e memória de Maria Teresa de Noronha
O Museu do Fado, em Lisboa, celebra 20 anos com um programa que inclui a edição de um CD de novos talentos, como Diogo Varela e Francisco Salvação Barreto, e uma exposição sobre Maria Teresa de Noronha, entre outras iniciativas.
O programa de celebrações abre, no próximo dia 20, às 19:00, no Teatro Municipal de S. Luiz, com o espetáculo de apresentação do álbum de estreia do fadista Francisco Salvação Barreto, “Horas da Vida”, pela etiqueta do Museu do Fado, e que teve a direção de voz de Camané, fadista distinguido este ano com o Prémio Manuel Simões-Melhor Álbum de Fado.
A chancela discográfica do Museu surgiu em junho de 2016, tendo sido inaugurada pelo guitarrista José Manuel Neto, com o seu álbum de estreia, a solo, “Tons de Lisboa”.
De 23 a 27, a História do Fado é contada num espetáculo de ‘video-mapping’ projetado na fachada do Museu, em Alfama, três vezes por noite – às 20:30, 21:00 e 21:30 – com as participações dos fadistas Mariza, Camané e Carlos do Carmo, e do guitarrista José Manuel Neto.
No dia 23, é inaugurada uma exposição evocativa da fadista Maria Teresa de Noronha, cujo centenário do nascimento se comemora este ano. A exposição, que fica patente até ao final do ano, conta com a colaboração da Academia da Guitarra Portuguesa e do Fado.
No dia 24, o guitarrista Gaspar Varela, de 15 anos, apresenta, no pequeno auditório do Centro Cultural de Belém, o seu álbum de estreia, coproduzido pelo Museu, no âmbito do ciclo “Há Fado no Cais”.
O músico é bisneto da fadista Celeste Rodrigues, que morreu em agosto último aos 95 anos, e apresentado pelo museu como “afilhado” artístico do guitarrista Paulo Parreira, distinguido em 2011 com o Prémio Amália para o Melhor instrumentista.
O Museu do Fado, instalado na antiga estação elevatória de águas de Alfama, abriu portas a 25 de setembro de 1998, e faz parte dos equipamentos culturais da Empresa de Gestão dos Equipamentos de Animação Cultural (EGEAC), da Câmara de Lisboa, sendo desde então dirigido pela historiadora de arte Sara Pereira.
Dez anos depois de ser inaugurado, o museu apresentou um novo programa museológico, do qual, entre outras obras de arte, faz parte o quadro “O Fado” (1910), de José Malhoa, e a litografia “Os Fadistas” (1873), de Rafael Bordalo Pinheiro.
O novo programa museológico abandonou, a nível conceptual, a recriação de ambientes, que segundo Sara Pereira, “constrangia um pouco em termos de espaço de exposição”, e passou a apresentar outro tipo de acervo, como telas, discos, fotografias e cartazes.
A aposta nas novas tecnologias é outra das características do renovado Museu do Fado, disponibilizando postos de consulta que permitem o acesso ao seu espólio, nomeadamente, imagens, repertório, registos áudio, biografia, programas de espetáculos e até a partituras que existirem.
Ao longo de 20 anos, o museu desenvolveu várias iniciativas, destacando-se a classificação do Fado como Património Cultural Imaterial da Humanidade pela UNESCO, em novembro de 2011, e o Arquivo Sonoro Digital.
Este arquivo disponibiliza cerca de 3.000 gravações, um projeto de proteção, estudo e valorização do património fonográfico português, desenvolvido em conformidade com as normas e protocolos da International Association of Sound and Audiovisual Archives [IASA], como disse Sara Pereira à agência Lusa, em 2016.
O arquivo insere-se no quadro do Plano de Salvaguarda inerente à inscrição do Fado na Lista Representativa do Património Cultural Imaterial da Humanidade.
O acesso é livre e as gravações, “devidamente tratadas e digitalizadas”, situam-se, cronologicamente, entre 1900 e 1950, sendo “cerca de metade de ainda antes da gravação elétrica, isto é, anterior a 1927”.
Este arquivo foi constituído, parcialmente, a partir da coleção de música portuguesa de Bruce Bastin, com cerca de 8.000 gravações, adquirida pelo Estado português, num investimento que contou com o apoio financeiro da EGEAC.
Outra iniciativa no percurso de 20 anos do museu, foi o colóquio “Paisagens Literárias e Percursos do Fado”, organizado em 2014, em parceria com o Instituto de Estudos de Literatura Tradicional da Universidade Nova de Lisboa, que reuniu investigadores das áreas da Literatura, Música, Etnomusicologia, Antropologia, História, Arquitetura, Artes Plásticas e Visuais.
A “presença de Lisboa na literatura, no fado e nas artes ao longo dos últimos dois séculos” esteve em debate durante dois dias naquele espaço em Alfama.
Fora de portas, o Museu do Fado levou a exposição “Com Esta Voz Me Visto – O Fado e a Moda”, ao Museu do Design e da Moda (MUDE), tendo recebido mais de 70 mil visitantes de dezembro de 2012 a abril de 2013.
O museu tem também apresentado, em parceria com a Imprensa Nacional, uma linha editorial, no âmbito da qual foi publicado o título “Poetas Populares do Fado”, de Francisco Mendes e Daniel Gouveia, e tem apoiado edições livreiras como “40 fados”, de José Luís Gordo e Arménio de Melo.
O Museu do Fado tem sido igualmente um espaço de encontro da comunidade fadista, onde se realizam colóquios e conferências por entidades como a Associação Portuguesa dos Amigos do Fado, e celebrações como o centenário do editor discográfico Manuel Simões. Tem também acolhido várias exposições temporárias, subordinadas a temáticas diversas, do poeta David Mourão-Ferreira ao compositor Alain Oulman ou aos fadistas Berta Cardoso (1911-1997) e Carlos do Carmo.
Fonte: Lusa