Documentário do cineasta Ivan Dias testemunha presença portuguesa em Goa
O cineasta Ivan Dias, autor do documentário “Azulejos de Goa”, que foi apresentado ontem, no Museu do Fado, em Lisboa, com um CD fados e ‘mandós’, disse que “é conhecendo Goa que os portugueses se reconhecem”.
O realizador falava à agência Lusa sobre o documentário “Azulejos de Goa”, no qual aborda o trabalho artístico de Orlando de Noronha, “e através dos seus azulejos conta-se a história de seu pai, Fernando de Noronha, que foi sempre um defensor da portugalidade” naquele território, que passou a fazer pare da Índia em 19 de dezembro de 1961.
O DVD foi apresentado numa edição ‘digipack’, que inclui um CD, “Fandóziando – Fados, Mandós e Fantasias”, constituído por sete fados, sete ‘mandós’, um dos géneros da música tradicional goesa, “em que se nota a influência das toadas portuguesas”, e ainda quatro outras composições, as quais denominaram “fantasias”.
“O ‘mandó’ é assim algo que nem os locais conseguem bem definir, por ser uma valsa ‘descompassada’ que está intrinsecamente ligada à ideia que o povo que acolheu a nossa música fez dela”, explicou.
No Museu do Fado, durante a apresentação do DVD e do CD, atuam um grupo de músicos constituído pelos goeses Óscar do Rosário (viola) e Orlando de Noronha (violino), e os portugueses Henrique Vieira (viola) e Manuel Rocha (violino).
Sobre o DVD, Ivan Dias disse que é inspirado na história de Fernando de Noronha, pai de Orlando de Noronha, autor de azulejos e violinista, de quem Ivan Dias é amigo há 25 anos, desde os tempos da universidade, em Coimbra.
Fernando de Noronha “foi sempre um defensor da portugalidade” em Goa, disse.
“Orlando de Noronha, que também é violinista, fez parte da secção de fado da Associação Académica da Universidade de Coimbra, onde eu o conheci, e contou-me como seu pai [Fernando de Noronha] foi um dos últimos baluartes da defesa da portugalidade em Goa, da língua, da cultura e da religião, o que foi corroborado por muita gente de Goa, que fui conhecendo”, contou.
“Quando entraram as tropas indianas [em 1961] muita gente referia-se à ‘libertação’, e Fernando de Noronha chamou sempre ‘invasão’, e eu achei que era essa história que queria contar através dos azulejos que o filho faz”, disse Ivan Dias.
Este é o terceiro trabalho que Ivan Dias faz em Goa, “desta vez para contar, através dos azulejos que o Orlando faz, como se fossem pequenos mosaicos para contar a história do pai dele nesta defesa da manutenção da cultura portuguesa”, naquele Estado indiano.
O realizador realçou que a questão da presença portuguesa em Goa, se tornou “mais evidente” desde a visita do primeiro-ministro, António Costa, ao território, em janeiro do ano passado.
Desde então, “toda esta portugalidade teve algum direito a respirar outra vez, ao fim destes anos todos”, e “esta história passou a fazer sentido, porque há uma abertura a Portugal completamente diferente, e viveu-se Goa de uma outra forma”, disse o cineasta, autor, entre outros, do documentário “Um Homem no Mundo”, sobre o fadista Carlos do Carmo.
O DVD e o CD, que levaram um mês a realizar em Goa, em dezembro de 2017, são dedicados a S. Francisco Xavier, patrono de Goa, disse o cineasta, referindo que o ‘digipack’, por intermédio do diplomata espanhol Ion de la Riva, foi já entregue ao papa Francisco.
“Como Goa tem os pássaros mais bonitos e cantores de toda a Índia, até incluímos algumas gravações deles, e escolhemos os pássaros, representados numa ‘pashmina’ indiana [pano tradicional]”, rematou o cineasta.
Fonte: Lusa