Dias passam e revelam destruição no continente e ilha do Ibo

A fortaleza de São João Baptista, na ilha do Ibo, Norte de Moçambique, construída por Portugal no século XVIII, foi transformada num dos locais de acolhimento de desalojados pelo ciclone Kenneth.

“Para cima de 4.000 casas foram abaixo na ilha” afetando 3.000 famílias, anunciou Issa Tarmamade, administrador do Ibo, no sábado, durante uma vista da diretora do Instituto Nacional de Gestão de Calamidades (INGC) de Moçambique, Augusta Maíta.

Aquela responsável passou pela fortaleza, um dos pontos de abrigo para muitas famílias, que viveram um momento de “aflição”, retratou Issa Tarmamade, num vídeo sobre a visita divulgado pelo INGC nas redes sociais.

A ilha faz parte do arquipélago das Quirimbas e já foi capital de Cabo Delgado até ao início do século XX.

Agora, foi uma das zonas mais atingidas pelo ciclone e onde ainda é difícil chegar, devido às condições do mar, mas também por dificuldade de acesso, por terra, aos cais de partida dos barcos, no continente.

No Ibo, não há eletricidade e as redes móveis de comunicações não funcionam.

As fotografias divulgadas pelo INGC mostram casas parcialmente destruídas, tanto as mais precárias como as de alvenaria, muitos muros tombados e ruas cobertas de árvores caídas.

Três dias depois da passagem do ciclone Kenneth, começa a ser conhecido o cenário de destruição completa de diversas comunidades e aldeias da província de Cabo Delgado, à medida que vários caminhos em terra batida são reabertos, com as árvores tombadas desviadas das vias e com o arranque de operações aéreas humanitárias.

“Vimos do ar algumas das aldeias que ficaram no olho do ciclone e foram totalmente arrasadas. Parece que foram esmagadas por uma máquina de compactar”, descreveu no sábado Gema Connell, chefe do braço humanitário das Nações Unidas (OCHA), após um voo.

Um desses locais é Muangamula, onde vivem algumas centenas de pessoas, no distrito de Macomia, no continente.

A casa de Faustino Ponda, 68 anos, era a primeira de uma fileira de habitações de estacas e adobe (barro) da aldeia, transformada numa linha contínua de escombros.

“Na noite do ciclone todas as casas caíram, havia muito barulho e as chapas [de zinco] andavam pelo ar”, no meio da escuridão, como uma ameaça invisível para quem procurava abrigo, recorda à Lusa.

Bastaram três horas de temporal, entre as 19:00 e as 22:00, para arrasar tudo, recorda Faustino Ponda.

“Tivemos medo, sim, e corremos de um lado para o outro a fugir do ciclone”, uma força ruidosa e poderosa.

“As pessoas deitavam-se em qualquer lado, escondidas, para ver se passavam [ilesas]”, acrescentou.

Raimundo Macomia, 32 anos, morador noutra fileira de casas da aldeia, não esquece a memória de ter de correr sem ver para onde, porque não havia outra forma de se afastar do perigo.

“As placas de zinco que tinham voado eram um sinal grave” da destruição que estava para se instalar.

Em Muangamula, os residentes ainda perguntam a quem passa se o ciclone “já terminou” ou se ainda pode voltar, porque o receio é grande, após a experiência por que passaram.

Além dos distritos do Ibo e de Macomia, os principais estragos estão nos distritos de Quissanga, Quiterajo e Quissanga.

O ciclone Kenneth foi o primeiro, desde que há registos, a atingir o Norte de Moçambique, onde provocou cinco mortos, segundo número oficiais e numa altura em que ainda decorrem levantamentos em zonas mais remotas.

Quase 3.500 casas foram parcial ou totalmente destruídas, pelo menos 16 mil pessoas foram afetadas pelo ciclone e há mais de 18 mil pessoas em 22 centros de acomodação.

Fonte: Lusa

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