Moçambique: Estradas cortadas travam ajuda humanitária no Norte e sacrificam residentes

Amade Buenamar carrega um saco de 15 quilos de arroz à cabeça para levar para casa, mas depois do ciclone Kenneth, o caminho é duro até chegar a Metuge, no Norte de Moçambique.

“São 12 quilómetros, três horas de caminho”, com um peso enorme, mas o alívio de ter comida para a família.

A chuva “arrastou a estrada” e não há outra forma de chegar à sede de distrito de Metuge, situada junto a Pemba, capital provincial de Cabo Delgado.

A zona até foi poupada aos ventos fortes do ciclone, na quarta-feira, mas a chuva forte que se seguiu nos últimos dias arrasou campos agrícolas e vias de comunicação.

Cira Mussá segue também a pé, depois de o transporte o largar no entroncamento com a Estrada Nacional 1 (EN1).

“Por aqui já não passa nada”, por isso, “é preciso caminhar, não há outra forma”, refere, descalço, com passo acelerado, para tentar escapar à chuva que ameaça cair outra vez.

As previsões continuam a manter em alerta toda a região, porque a chuva forte pode continuar.

A corte na estrada para Metuge impede a distribuição de ajuda humanitária aos distritos de Quissanga e Ibo, dois dos mais afetados depois de Macomia.

A ilha do Ibo recebeu hoje um primeiro voo de carga do PAM (Programa Alimentar Mundial), naquele que foi o dia de estreia dos meios aéreos para auxílio.

Mas o segundo helicóptero já não chegou a descolar do aeroporto internacional de Pemba, porque o tempo piorou ao fim da manhã.

Amanhã haverá novas tentativas, porque por terra os danos parecem levar tempo a reparar: há blocos de pedra arrastados, valas e crateras gigantes abertas pela força das águas na estrada para Metuge.

Esta é uma de sete vias danificadas em Cabo Delgado e que estão a dificultar as operações de apoio a cerca de 166.000 pessoas afetadas e que precisam, acima de tudo, de comida, abrigos e produtos de desinfeção da água.

A EN1 chegou a estar cortada no domingo, em Mieze, onde o rio galgou a estrada em dois locais.

“A água cobriu tudo até lá ao fundo”, diz uma criança a apontar para longe e a esticar o braço o mais que pode.

Com a ajuda de amigos, abre regos e limpa uma das vias de acesso da aldeia, sob a ameaça de mais nuvens escuras.

Reportagem: Lusa

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