Escritor e jornalista moçambicano lança hoje livro sobre Afonso Dhlakama
O escritor e jornalista moçambicano Adelino Timóteo defendeu hoje que Afonso Dhlakama e a Resistência Nacional Moçambicana (Renamo) não devem ser subcategorizados devido à guerra civil.
A declaração é feita no dia em que lança um livro em homenagem póstuma ao ex-líder do maior partido da oposição em Moçambique.
A obra “Afonso Dhlakama: a longa luta em defesa da democracia” vai ser lançada hoje no auditório municipal da Beira, um ano após a morte do ex-líder da Renamo.
Em declarações à Lusa, na Beira, Adelino Timóteo defendeu a necessidade de desmitificar a guerra civil como guerra de desestabilização e considerou que se deve corrigir a história do país.
Adelino retratou o seu primeiro encontro com Dhlakama e discorre sobre a história da emergência da Renamo.
“O meu primeiro encontro com Dhlakama dá-se em 1995, enquanto repórter do Diário de Moçambique. Fui destacado, um pouco depois das eleições gerais, para o acompanhar”, contou.
Passados três dias de convivência, continuou Adelino Timóteo, “muda o paradigma em relação à figura dele, que no passado era cabecilha dos bandidos armados”, para “uma figura bastante sensível e bastante humana”.
Desde então nasceu o interesse em escrever sobre Afonso Dhlakama, o que o levou a percorrer arquivos na África de Sul, Portugal, França e Estados Unidos da América.
A ideia inicial era oferecer o livro a Afonso Dhlakama e convidá-lo para participar no seu lançamento, mas o presidente da Renamo faleceu em 3 de maio de 2018.
“Pensei que fosse um boato”, disse, e hoje recorda-o como uma figura “que influenciou todos os processos políticos moçambicanos, desde 1976, ainda que muitos o subcategorizem”.
Com a obra, disse, pretende contribuir para a pesquisa, no campo das ciências sociais, para esclarecer a guerra civil entre 1977 e 1992, sobretudo de alguns fatores desconhecidos dos moçambicanos.
“Não é aquela guerra fomentada do exterior. Na minha visão, na minha perspetiva, a guerra deveu-se ao totalitarismo em Moçambique, à ditadura”, considerou o jornalista, reiterando que enquanto decorria um conflito interno, ocorria um conflito regional, com o apoio dos países ocidentais e do Leste.
“Então, a guerra em Moçambique não se deveu a fatores desestabilizadores, mas a um posicionamento desses países da região relativamente à politica internacional, às relações internacionais, tanto mais que a solução da guerra civil (em Moçambique), passou pela solução de todos os conflitos na região” sublinhou Adelino Timóteo.
A segunda parte do livro, a lançar, deverá conter longas entrevistas a oito guerrilheiros da Renamo que descrevem o percurso da guerra civil, que arrancou com 2.000 guerrilheiros e passou a mais 80.000 em um ano de comando de Afonso Dhlakama, após incorporar régulos na luta armada.
Fonte: Lusa