Macau: Dia do Buda e de Tam Kung

As comemorações do Dia do Buda têm lugar no oitavo dia da 4.ª Lua, que corresponde, este ano, ao dia 12 de maio do calendário Gregoriano.  O Banho de Buda é uma cerimónia que se realiza em todos os templos budistas de Macau.

As comemorações começam bem cedo, com visita aos templos, para fazer oferendas, arder incenso, sendo o ritual de purificação – Banho  Buda – um dos pontos altos.

“Os monges, regra geral, utilizam no ritual do Banho do Buda, no dia do seu aniversário, uma imagem de Buda recém-nascido, em posição de pé com um dedo apontando o céu e outro a terra” explicou à Somos! o historiador e mestre em Relações Interculturais, Fernando Sales Lopes.

Neste dia coincidem ainda, na RAEM, as festividades do Dragão Embriagado  e a de Tam Kung .

O  Deus dos Mares

Reza a lenda que foi na Província de Guangdong, durante da Dinastia Yuan, que nasceu  Tam Kung.

Órfão de pai e criado pela avó, o pequeno Tam Kung começou cedo a demonstrar os poderes sobre-humanos para comandar os ventos e as águas e na cura de doenças, “exibia os seus poderes de forma simples, como criança que era. Consta que para fazer chover lhe bastava lançar ao ar um punhado de pevides e que, erguendo as mãos aos céus, por maior que fosse a tempestade ela se acalmava”, acrescenta o historiador.

Para Sales Lopes são inúmeras as lendas sustentam o estatuto de divindade de Tam Kung, “uma outra conta que a criança costumava pastar as vacas da sua avó num planalto conhecido por ser habitat de muitos tigres. Uma tarde não voltou e o povo preparou uma batida para o encontrar. Com espanto de todos depararam-se com o menino a brincar alegremente com os tigres que lhe obedeciam a todas as ordens. Por isso, no templo que lhe é dedicado a pintura do tigre está bem visível”.

Estes poderes especiais transformaram-no numa “divindade popular entre os homens do mar e com poderes proféticos transmitidos através dos sonos” refere Sales Lopes, realçando ainda que, isso deu origem a que se tornasse num ser “imortal” com características de “uma imagem jovem, de face limpa, com uma cabaia colorida muitas vezes decoradas com elementos de yin e yang.”

Mas se estes poderes lhe deram lugar de divindade, o historiador destaca que os feitos realizados em Coloane deram-lhe estatuto de divindade com influência na vida dos locais, “conta-se que um dia a mãe de Tam kung teve um sonho onde tudo brilhava. Ao acordar lembrou-se que sonhara com uma mesa redonda e sete bancos, tudo em ouro num determinado sítio da ilha de Coloane. Ao acordar foi a correr ao local, mas nada encontrou, ficando muito triste e perturbada. Ora o filho ao saber disto mandou construir uma mesa com sete bancos mas… em pedra. Depois levou a mãe ao local mostrando-lhe que ela tinha razão, que tinha visto a mesa e os sete bancos, mas não eram de ouro mas sim de pedra”.

Culto de Tam Kung e a Festa em Coloane

Tam Kung é uma divindade local muito popular na região do Rio das Pérolas e seus afluentes. Os festejos em homenagem à divindade ocorrem em Coloane com as gentes do mar e as colónias piscatórias do Delta. Das comemorações realizam-se em Coloane espetáculos de ópera num pavilhão que para o efeito é montado no largo fronteiriço ao templo (Largo Tam Kung Miu); desfiles etnográficos, tendo como motivo a vida das gentes ligadas ao mar; parada com representação de ranchos folclóricos de matriz portuguesa, mas também majorettes, ou grupos de dança jazz,

Esta mistura entre a tradição e a modernidade deve-se, segundo Sales Lopes, ao “facto da existência de empresas sediadas nas ilhas e que se integram na comunidade apoiando os festejos de variados modos. Espetáculo único é a dança de um dragão-humano formado por crianças que, aos ombros dos mais velhos, representam as partes do corpo, as suas escamas e a cabeça”, acrescenta.

O templo de  Tam Kung

Edificado em 1862, o templo de Tam Kung , em Coloane, localiza-se em frente ao mar, a entrada do templo é guardada por dois leões de pedra. No seu interior, encontra-se o célebre barco-dragão construído a partir de um osso de baleia, com cabeça e cauda de dragão oferecido por pescadores. Na parede ao lado esquerdo da entrada encontra-se a pintura de um tigre assinalando o que descreve uma das lendas, que acrescenta ser hábito da divindade sair sempre acompanhado por um tigre.

A procissão: Tam kung

Sales Lopes explica que depois da “purificação pelos pivetes, panchões da dança do leão, Tam Kung sai em procissão do seu templo andando pelas ruas de Coloane, abençoando a vila e visitando os palácios das outras divindades”  nomeadamente “Tin Hau, a deusa dos mares, Kan Fa, a Flor Dourada que divide com Kun Iam e Va Kuong o pequeno templo de Sam Seng”.

Tam Kung, é transportado num andor-cadeira que depois da procissão regressa ao seu templo “acompanhado das outras divindades que se fazem representar em pequenas estátuas que ficarão no pavilhão multifunções, onde terão lugar as diversas atividades, estando presentes e a elas assistindo”.

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Fotografias: Gonçalo Lobo Pinheiro

 

 

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