Presença de África na ARCOlisboa pode “abrir portas” a outros mercados

A curadora para o projeto de arte de África na ARCOlisboa, Paula Nascimento, espera que esta presença africana inédita na feira, que começa a 16 de maio, “abra portas” para outros mercados, fora dos mais procurados por artistas africanos.

Entrevistada pela agência Lusa, Paula Nascimento disse que recebeu um convite direto da organização da ARCOlisboa – Feira Internacional de Arte Contemporânea de Lisboa, que vai decorrer até 19 de maio, com 71 galerias portuguesas e estrangeiras, incluindo seis de África.

De passagem por Lisboa para viajar até Veneza, onde vai visitar a 58.ª Bienal Internacional de Arte, a arquiteta e curadora independente angolana falou sobre o atual trabalho dos artistas contemporâneos africanos.

“Para mim foi uma surpresa que seja a primeira vez que esta feira acolha galerias africanas”, comentou, explicando que aceitou o convite com o objetivo de fazer “uma aproximação da ARCO ao continente” africano.

Paula Nascimento foi uma das curadoras da participação de Angola na Bienal de Arte de Veneza de 2013, com Stefano Pansera, quando aquele país venceu o Leão de Ouro para o pavilhão nacional com o projeto “Luanda, Cidade Enciclopédica”, baseado em fotografias do artista angolano Edson Chagas.

Na curadoria para a ARCOLisboa desenhou uma estratégia com a organização, recolhendo propostas de galerias africanas e enviando convites a outras, decidindo, na escolha final, “quebrar a questão linguística [do português] e trazer práticas de outros países africanos”, como o Uganda e África do Sul.

Nessa linha, a nova secção especial África em Foco contará com seis galerias: a Afriart (Kampala, Uganda), Arte de Gema (Maputo, Moçambique), Jahmek (Luanda, Angola), Momo (Cidade do Cabo, África do Sul), Movart (Luanda, Angola), e This is not a White Cube (Luanda, Angola).

“É um programa muito fluido, que se espalha por toda a feira, desde o programa geral, a outras secções, e também às conversas”, descreveu a curadora à Lusa sobre o seu projeto.

Questionada sobre se foi fácil fazer esta seleção para a feira, Paula Nascimento disse que não, porque “Portugal é ainda um mercado de arte muito periférico” e a participação teve de ser “negociada”.

“Lisboa está na moda, mas os artistas africanos procuram mais a visibilidade em plataformas como Londres e Paris, e, agora, começam a ir para os Estados Unidos. Portanto, Portugal não faz parte destes circuitos”, disse, explicando que, “como o mercado de arte português não é conhecido, foi preciso um processo de negociação da presença das galerias”, argumentando com “o interesse em chegar a outros mercados”.

Neste foco especial em África na ARCOlisboa vão ser apresentados trabalhos de artistas angolanos como Kiluanji Kia Henda, Yonamine e outros, menos conhecidos, como Keyezua e Januario Jano.

Em Angola, “há uma cena artística jovem que está a lutar para sobreviver e para crescer”, descreveu, na entrevista à Lusa.

“Há um crescendo de artistas que estão a atingir o topo, e cada vez mais a serem comprados e valorizados internacionalmente, e, ao mesmo tempo, a desenvolver projetos no país, que acabam por servir como plataformas de outros artistas”, descreveu a curadora.

Paula Nascimento apontou que, atualmente, existe uma grande diversidade de práticas artísticas, e há galerias e artistas a fazer trabalhos independentes, com poucos espaços de exposição, mas “existe um crescendo de artistas com carreira internacional valorizados no mercado mundial”.

“Em Moçambique acredito que exista um movimento parecido, com muita coisa a acontecer de forma independente”, disse, acrescentando que, numa época em que a comunicação é global, através da internet, surgem muitas plataformas artísticas.

A curadora deu como exemplo de crescimento o caso do Uganda, “um país com uma cena artística jovem e interessante, enquanto a África do Sul é uma força maior a nível do continente, com muitas galerias e um mercado bem estruturado”.

Na mesma linha do interesse pela arte africana, apontou que o Gana vai participar pela primeira vez na Bienal de Arte de Veneza, tal como Madagáscar, “e as suas representações já estão a ser comentadas e a criar muita expectativa”.

Paula Nascimento chamou ainda a atenção para o aspeto económico da arte e defende que “os mercados devem abrir-se cada vez mais à diversidade de práticas artísticas de vários países”.

“É importante que as galerias circulem noutros mercados, para países que ainda não estão no mapa das suas preferências imediatas. É também bom para as economias locais, porque reverte para eles próprios”, sublinhou.

No entanto, a presença das galerias nas feiras “não é barata, e a visibilidade exige um investimento que tem de ser constante para estabelecer relações mais duradouras, sabendo que muitas vezes o retorno não é imediato”.

Coorganizado pela IFEMA (Feria de Madrid) e pela Câmara Municipal de Lisboa, o certame apresentará galerias de 17 países na Cordoaria Nacional, organizada em torno de três áreas: o Programa Geral, com 52 galerias, Opening, com nove, e Projetos, também com nove.

Globalmente, participam 24 galerias de Portugal, 24 de Espanha e duas do Brasil, mas também de países como o Reino Unido, a Roménia, a Itália, Polónia e França.

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