Angola: Campeã de xadrez ambiciona ser Grande Mestre

Esperança Caxita nasceu no Cafunfo, Lunda-Norte, em 1999, há 20 anos, filha de Manassa Caxita, falecido, e Cecília Sumbula, doméstica.

Esperança Caxita saiu da Lunda-Norte com nove anos, rumo à casa da tia, em Luanda, deixando os pais para trás. Frequentou a escola Primária 6012, no Bairro Popular, e o ensino médio no Colégio Kibangas, na Vila Alice, curso de Gestão Empresarial e Economia, que termina este ano.

Esperança Caxita começou a jogar xadrez em 2010, com 11 anos de idade, na Escola Macovi Sport Club, que agora completa 20 anos de existência.

“Tudo começou do nada, como uma brincadeira de criança, na época ia sempre brincar no parque infantil da zona onde foi criada a Escola Macovi de Xadrez”, informa-nos Esperança Caxita.

Esperança Caxita e as colegas, curiosas por saberem o que lá havia, decidiram entrar e depararam com outras crianças a “mexerem” em “algumas coisinhas estranhas (tabuleiros de xadrez)”. O professor perguntou se queriam aprender. “Dissemos que sim e ele disse que para aprender e depois jogar teríamos de fazer a inscrição.”

Esperança Caxita e as colegas no dia seguinte enfrentaram-se com um tabuleiro à frente e começaram a aprendizagem. “Da minha parte foi um pouco difícil aprender a jogar, afinal não era como o futebol, basquetebol ou andebol, mas finalmente aprendemos a movimentar as peças.”

Depois de aprenderem começaram a ser convidadas e como não faziam nada para além de estudar, aceitaram, com permissão dos pais.

E não mais pararam de aprender a jogar xadrez, nesse viveiro de campeões chamado Clube Macovi, uma referência do Bairro Popular, criado por Marceliano Correia Victor. “Íamos sempre a lugares novos, comecei a jogar em alguns torneios a nível da escola, com os meus colegas e, finalmente em 2011, fui convocada para jogar o meu primeiro campeonato provincial de xadrez.”

Depois do Provincial é convocada para o Nacional no mesmo ano em Benguela e para sua surpresa faz um bom campeonato, fica em sexto lugar à frente de jogadoras mais antigas e mais fortes e experientes.

Esperança Caxita começou a treinar mais intensamente para ver se conseguia chegar ao nível delas ou o mais próximo possível e então foram treinos atrás de treinos e muitos jogos, depois da escola era só xadrez, estava sempre disponível para jogar, fez alguns torneios em 2011 sabendo que ainda teria de treinar muito.

Em 2012 jogou os Provinciais mas sem o resultado que esperava, chegou então ao Nacional, esforçou-se em extremo, deu tudo de si e conseguiu ganhar o seu primeiro campeonato nacional que é a maior prova juvenil a nível do país.

Como era época olímpica, e para sua alegria, graças ao título nacional de juvenis, conseguiu apurar-se para as Olimpíadas de 2012 na Turquia, sua primeira viagem e uma das suas metas atingidas.

“E aí sonhei ser campeã de Angola e não só, conhecer mais países e ser, quem sabe, a mais forte de Angola. E aí vamos, campeã nacional de juvenis em 2012, campeã de seniores em 2013, vou para o Africano de juniores em 2013 na Argélia e ganho.”

Esperança Caxita não quis mais parar, ganha o Nacional de juniores em 2014, ganha novamente o campeonato africano de juniores em 2014 e é bicampeã africana de juniores.

Novamente campeã de seniores em 2016, 2017, 2018 e 2019, é também campeã africana de juniores na Tunisia em 2016, totalizando três campeonatos africanos de juniores (tricampeã africana de juniores 2013, 2014 e 2016) e participa em quatro Olimpíadas e em dois Mundiais de juniores.

Este ano, com 20 anos, ganha o zonal africano de seniores 4.3 em Madagáscar ficando apurada para a Copa do Mundo na Rússia.

Para atingir estes êxitos, a jovem teve de se entregar esforçados tempos de treino, a par da escola, e não tem dúvida em reconheer que as maiores dificuldades da sua carreira se prendem, desde que se tornou Mestre Internacional, em 2013, com o facto de não ter um treinador capacitado e com nível internacional de selecção.

Mas não só.

Outras dificuldades enfrentadas por Esperança Caxita têm a ver com a falta de apoios para participar em alguns torneios internacionais e a falta de meios para treinos individuais.

A meta agora é conseguir o último título que lhe falta para ela própria e para Angola, o de Grande Mestre. “Para isso, o que está a ser muito difícil conseguir, a melhor forma e mais eficaz seria poder conseguir uma bolsa de estudos no exterior onde associaria a formação académica e desportiva, conseguindo concretizar o seu sonho de ser Grande Mestre (WGM).”

Aos jovens, Esperança Caxita deixa uma última mensagem: “Aprendam a jogar xadrez, aperfeiçoem-se porque isso vos vai ajudar até nos estudos, porque vos vai ensinar a pensar.”

Fonte: Jornal de Angola

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