Seca no Cunene “obriga” crianças a trabalhos forçados
A seca que afecta a província do Cunene desde Outubro de 2018 atingiu o pico e está a obrigar crianças, de ambos os sexos, menores de 15 anos de idade, a praticarem trabalhos esforçado, como alternativa ao combate à seca e à fome.
A Angop constatou essa realidade nas povoações de Oupiakadi, Oshamola, Hehabo e de Onamuka, na comuna do Evale, no município do Cuanhama, onde petizes estão envolvidos na escavação de profundos furos para a descoberta de água e seu consequente acarretamento.
Indagadas, as crianças manifestaram-se agastadas com a falta de água para o consumo humano e para os animais, preterindo, assim, os estudos e outras actividades infantis a favor do pasto para a sobrevivência das suas famílias e do próprio gado.
O adolescente Mateus Muhakenange Nande, de 14 anos de Idade, explicou que a seca está cada vez mais intensa, daí que na companhia de amigos e familiares se dirige diariamente na Cacimba do Ipyakadi, na localidade de Lukekete para procurar água no subsolo.
“Antes da seca, eu conseguia manter a minha higiene normal, mas hoje tenho que alternar. Como dificilmente tem para o consumo, então prefiro ficar sem tomar banho, às vezes uma semana”, reportou o habitante do Evale, município do Cuanhama.
Por seu turno, a menor Eugenia Hihalwa (dez anos de idade), residente na mesma localidade e compenetrada nos mesmos trabalhos forçados, pede ao governo para acelerar a abertura de novos furos e a reabilitação dos avariados, assim como mais ajuda alimentar.
Sublinhou que, por estarem a consumir água imprópria (das chimpacas), têm enfrentado sérios problemas de saúde, refletidos em doenças como diarreias com sangue, sarna e outras estranhas, incluindo constantes vómitos.
Abordado sobre o assunto, o vice-governador para os Serviços Técnicos e Infraestruturas da província do Cunene, Édio Gentil José, minimizou o envolvimento de crianças nessas actividades, por fazer parte do modo de vida das aldeias e não se tratar de uma imposição.
No quadro do plano de emergência para acudir a seca na circunscrição, o Governo do Cunene disponibilizou 20 camiões cisternas de 20 mil litros cada, 20 tractores com pipas de água atreladas e 400 reservatórios, colocados em pontos estratégicos das 20 comunas locais.
Entre os vários esforços está igualmente a reabilitar 171 furos de água em todos os municípios e a adquirir bens diversos, com base nos 3.9 mil milhões de kwanzas disponibilizados para o efeito. Em paralelo, tem distribuído produtos alimentares às famílias carenciadas.
Fonte: Angop