Moçambique: Empresa mineira de rubis ensina profissões a comunidades após passado violento

Uma empresa mineira de rubis do Norte de Moçambique que pagou indemnizações por um passado violento com a população, começcou a ensinar diferentes profissões a 2.100 pessoas nos próximos sete anos.

“Estamos a investir na educação devido a carências de infraestruturas nesta região”, explicou Emílio Jamine, gestor da empresa Montepuez Ruby Mining (MRM), participada maioritariamente pelo britânica Gemfields.

A firma inaugurou na segunda-feira um centro de formação profissional em Montepuez, província de Cabo Delgado, orçado em 1,4 milhões de dólares (1,2 milhões de euros) e que conta com duas salas de aula e oficinas, além de estruturas de apoio.

Vai ser possível aprender a fazer roupas, habitações e trabalhos específicos de engenharia em 12 cursos de três meses cada.

João Admo, 26 anos de idade, conta à Lusa que vai aprender eletricidade, algo muito diferente das tarefas de camponês que lhe ocupam o dia-a-dia em Ntoro, povoado situado dentro da área de concessão mineira.

“Eu não tinha uma atividade segura, plantava para sustentar os meus dois filhos e a minha mulher”, conta, quando explica o que o motivou a entrar na formação.

Numa outra oficina, Angelina João Paulo, 38 anos, prepara o material para o início das aulas com as quais espera “poder ajudar a família”.

A formação abre novas oportunidades, defende a empresa, numa tentativa de afastar a população da extração ilegal de rubis, que já provocou dezenas de mortes nas comunidades por causa de desabamento de terra e que foi motivo de violência extrema no passado.

Em janeiro, a Gemfields aceitou pagar um acordo extrajudicial de 8,3 milhões de dólares (7,5 milhões de euros) para pôr termo a 273 queixas de mortes, espancamentos e outras violações de direitos humanos junto à mina, executadas por segurança privada e polícias entre 2011 e 2018.

A firma admitiu os acidentes, mas nunca a responsabilidade pelos mesmos. O discurso atual frisa as ações em prol da população.

“A nossa relação com as comunidades melhorou muito nos últimos tempos: temos estado a consciencializar as populações sobre a importância de uma atividade legal”, disse Emílio Jamine.

Numa visita à mina, para jornalistas, a empresa realçou que desde 2014 já investiu três milhões de dólares (2,7 milhões de euros) em projetos de responsabilidades social, entre os quais se destacam duas clínicas móveis e a construção de quatro escolas primárias.

Além destas iniciativas, está em curso a construção de uma vila de reassentamento na região, um espaço que vai albergar 105 famílias da comunidade de Ntoro.

O bairro, cujas casas já estão prontas, custou até agora 7 milhões de dólares à empresa, que definiu um orçamento de 9,5 milhões de dólares para cobrir todo o processo de reassentamento.

“A MRM sempre privilegiou um processo de reassentamento interativo. Desde o primeiro dia da construção das casas, as famílias estiveram a acompanhar o processo”, disse à Lusa Jonathan Simango, engenheiro da MRM.

Criada em 2012, a MRM, detida em 75% pela Gemfields e em 25% pela moçambicana Mwiriti Limitada, que por sua vez é controlada por Raimundo Pachinuapa, um general veterano da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), partido no poder desde a independência.

A empresa começou a extrair rubis em 2014 e alcançou uma receita de 512 milhões de dólares (464,2 milhões de euros) provenientes de 12 leilões de pedras preciosas.

Fonte: Lusa

Partilhe esta história, escolha a plataforma!