Universidade Colinas de Boé na Guiné-Bissau pode fechar portas e precisa de ajuda
O reitor da Universidade Colinas de Boé na Guiné-Bissau, Huco Monteiro, não escamoteia a realidade e mesmo a brincar questiona os alunos sobre a falta de pagamento das propinas, que pode levar ao encerramento do estabelecimento de ensino.
“Vocês são um grupo a conspirar contra a escola”, brincou Huco Monteiro com os alunos da licenciatura de Direito.
Uma aluna respondeu: “Professor, não há dinheiro”.
Consciente das dificuldades das famílias dos alunos num dos países mais pobres do mundo e apanhado pelos efeitos económicos recessivos provocados pela covid-19, o antigo ministro da Educação e ex-chefe da diplomacia da Guiné-Bissau mantém-se firme e com a escola a funcionar.
“Uma das consequências do confinamento é que as pessoas não podem ir às aulas, não indo às aulas nós não estamos a realizar o nosso serviço público e não temos de cobrar nada, e não cobrando ficamos sem recursos”, disse à Lusa Huco Monteiro.
Criada em 2003, a Universidade Colinas de Boé depende das propinas que os alunos pagam.
A universidade fechou as portas em março e só voltou a reabrir em 31 de agosto, depois de garantir que cumpria todos os requisitos para prevenção contra o novo coronavírus. O que implicou mais investimento.
“Nós, não sabíamos que isto ia durar seis meses. Fomos gastando o dinheiro que tínhamos e chegamos a um ponto, no mês de agosto, digo isto com muita tristeza, depois de ter pago cinco meses de salários e contas, escrevi aos funcionários a dizer que são testemunhos da nossa boa vontade, mas só podemos dar o que temos”, afirmou.
Lamentando a falta de apoio do Estado guineense às pequenas e médias empresas e medidas que atenuassem a recessão económica provocada pela covid-19, Huco Monteiro salientou, contudo, que o contexto exige criatividade.
“Pensemos em soluções. Não basta chorar”, apontou à Lusa num otimismo de quem acredita num futuro para a juventude do seu país.
Se por um lado, o professor defende o apoio do Estado, como “poder público e orientador económico e protetor do emprego”, por outro, acredita no apoio de todos aqueles que apostam no seu projeto.
É que na Guiné-Bissau só há ensino universitário graças às instituições privadas.
“São estas instituições que formam. Se pararem de funcionar há um impacto social e cultural terrível”, frisou o reitor, salientando que pode ser complicado para o futuro do país uma juventude que não tem acesso à formação.
“É urgente o Estado estar ciente desta situação e procurar maneira de apoiar a juventude guineense”, advogou.
Mas, nem tudo poderá vir do Estado, e, por isso, Huco Monteiro pediu apoio a “padrinhos”, que contribuam para ajudar os mais carenciados a estudar.
“A ideia é desenvolver um sistema de parceria que possa privilegiar raparigas e alunos do interior, mais carenciados. Na Guiné-Bissau somos todos pobres, mas há mais pobres do que a média guineense”, referiu.
“Encorajo a todos os guineenses, amigos da Guiné, amigos da Universidade Colinas de Boé, homens e mulheres de boa vontade que pensem nesse sistema. Isso já nos ajuda a avançar, a tirar o nariz da água e a continuar a trabalhar”, vincou.
A propina mensal que um aluno paga na Universidade Colinas de Boé é de 30 euros. Os interessados podem contactar o estabelecimento de ensino ou Huco Monteiro através das redes sociais e apadrinhar um aluno.
A escola tem atualmente cerca 877 alunos.
A pandemia de covid-19 já provocou pelo menos 929.391 mortos e mais de 29,3 milhões de casos de infeção em 196 países e territórios, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.
A Guiné-Bissau registou 39 mortos e 2.303 casos de infeção pelo novo coronavírus.
A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de dezembro, em Wuhan, uma cidade do centro da China.
Fonte: Lusa