Um profundo amor pelo Kikolo
Jossué Bunga, mais conhecido por “Diplomata”, nasceu no Kikolo, em Luanda. É filho de um enfermeiro, que é, igualmente, comerciante e a mãe é vendedora de rua.
Com 24 anos, o jovem é actualmente escritor, professor, preparador universitário e secretário provincial para o Ensino Superior do Movimento de Estudantes Angolanos (MEA).
Jossué Bunga frequentou o ensino primário na Escola do Professor Miguel, no Kikolo, onde fez a iniciação até à 1ª classe. Depois, estudou no Colégio Tempo, no mesmo bairro, onde fez da 2ª à 5ªclasse, enquanto na Escola 4015, vulgo Escola 15, saiu com a 9ª classe.
Ao terminar este nível, por enormes dificuldades financeiras, viu-se obrigado a viajar para a cidade do Uíge, em 2013, onde se matriculou no Liceu Teta Lando.
Embora fosse bom aluno na cadeira de História, não seguiu qualquer curso ligado à esta área no Ensino Médio. Também, tinha uma enorme paixão por Ciências Políticas e Relações Internacionais.
Porém, foi no Ensino Superior que decidiu especializar-se em História, no curso de Ciências da Educação. O sonho de Jossué era fazer Relações Internacionais no Instituto Superior de Relações Internacionais (ISRI). Aqui, fez duas vezes o teste e, apesar de conseguir nota positiva, nunca foi admitido.
Essa situação fez com que mudasse de opção e tentasse na Escola Superior Politécnica (ESP)-Bengo, onde foi admitido. Tinha dificuldades financeiras extremas, mas conseguiu estudar. Viveu no Bengo durante quatro anos e tinha o apoio, sobretudo, da mãe, que vendia quissângua na rua.
Como sempre gostou de desafios, decidiu voltar ao bairro, e com os seus próprios livros, criou a Biblioteca Comunitária do Kikolo.
Uma das situações que o motivaram a criar a biblioteca, disse, é o facto de sentir que aquela circunscrição da província de Luanda, que liga a Cacuaco, há muito tem sido marginalizada.
“Não existe no Kikolo qualquer espaço de atracção e ocupação e, por essa razão, criei este projecto, para despertar as consciências e fazer com que as pessoas deixem de pensar o Kikolo a partir da imagem que tem sido vendida”.
E os desafios e as metas de Jossué Bunga são arrojados. “Pretendo fazer do Kikolo a nova ‘República da Literatura’. Eu nasci e cresci neste bairro e quero ajudar no desenvolvimento da circunscrição,participando activamente”.
Jossué Bunga considera-se um kikolense de verdade, de alma e coração. “Mesmo tendo nascido e crescido aqui, viver no bairro não tem sido fácil, pelo elevado índice de marginalização, analfabetismo e de outros males”.
Mas, realçou que o Kikolo tem um dos maiores mercados e mais conhecidos do país. Em função disso, também, o comércio é das principais actividades económicas,embora não tenha servido para resolver os problemas da população ligados à água, energia eléctrica, ao saneamento básico e a locais para actividades recreativas.
Devido a esta realidade, a que chama “amarga”, Jossué Bunga decidiu criar a Biblioteca Comunitária do Kikolo, também conhecida por “ProjectoLerKikolo”.
O promotor do projecto referiu que o objectivo da criação da biblioteca é, também, fazer com que a juventude esteja ocupada culturalmente não só comleitura gratuita, mas com a prática de xadrez e, até, puzzles.
“Acredito no papel destas actividades para o desenvolvimento psicomotor e psicossocial das crianças e dos jovens”, disse, para lamentar que este desafio não tem sido fácil, uma vez que a Administração local não ajuda muito.
Apesar disso, o jovem não desiste. “O Kikolo foi e é visto de forma preconceituosa e marginalizada, mas nós estamos aqui para mudar isso, com boas práticas, porque somos nós, a juventude, o motor de e para a mudança desta zona, daí essa nossa participação social e cívica”, concluiu Jossué Bunga.
Fonte: Jornal de Angola