Ana Flávia Miguel é a primeira investigadora de carreira na área da música no INET-md
Ana Flávia Miguel, que tem vindo a elaborar projectos com base em géneros musicais tradicionais cabo-verdianos em Portugal, é a primeira investigadora de carreira na área da música no Instituto de Etnomusicologia – Centro de Estudos em Música e Dança (INET-md) da Universidade de Aveiro (UA), em Portugal. Esta informação foi divulgada, esta quarta-feira, no site da Universidade do Aveiro.
Com este título, a investigadora espera que “a porta que agora se abriu seja o início da construção de um corpo de investigadores e que outras pessoas possam concretizar o sonho de ter uma posição mais segura”.
Segundo a mesma fonte, é a primeira vez que um investigador na área da música assume o estatuto de investigador de carreira no INET-md.
Ana Flávia Miguel, explica a mesma fonte, disse que “fica muito feliz por esta primeira oportunidade ter sido dada à Etnomusicologia”, área disciplinar que está na origem da criação do INET-md.
A investigadora acrescenta que “o tempo e a energia que muitas pessoas gastam na busca por soluções profissionais cada vez que o término de contrato se aproxima penaliza a produção científica”, estando por isso “muito feliz por ser a primeira investigadora em música de carreira”.
O seu percurso profissional começou com o estudo de um género performativo, Kola San Jon, e a construção do dossier de candidatura ao inventário do património cultural em Portugal, o que, explica, lhe permitiu perceber qual a importância da música para a manutenção de laços emocionais com o país de origem e para o diálogo com o país de acolhimento.
Do seu caminho de investigação fez parte também o projecto Skopeofonia, cujo objectivo foi mapear o estudo da música no Bairro da Cova da Moura, na Amadora, um projecto que incluiu como investigadores (a tempo inteiro e com remuneração) jovens músicos da comunidade.
O processo colectivo, conta, mostrou aos investigadores um bairro com uma actividade musical vibrante que reverte o rótulo de “bairro perigoso” num bairro desejado para usufruir da música e da dança.
Foi “neste emaranhado de diferentes músicas que são produzidas ou que acontecem na Cova da Moura” que a investigadora reparou haver a “presença” mais ou menos discreta da referência a Cesária Évora, motivo pelo qual se tem agora dedicado à música cabo-verdiana.
Conforme a mesma fonte, actualmente Ana Flávia está a desenvolver um projecto centrado na figura de Cesária Évora e o seu papel para as mulheres cabo-verdianas, em particular para a geração mais jovem de cantoras.
De olhos postos no futuro, e depois de notar um gosto “pela música protagonizada pela nova geração de cantoras, que na sua maioria nasceram e fazem o seu percurso profissional na Europa, mas sempre com a referência a Cabo Verde”, Ana Flávia espera continuar a estudar os trajectos deste conjunto de mulheres e o modo como contribuem para a construção de uma Europa afrossonante.
A investigadora tem dedicado também parte do seu tempo à construção de arquivos digitais em música, numa tentativa de resposta às políticas de open science nos últimos anos.
O INET-md foi sido criado em 1995, na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas (FCSH) da Universidade Nova em Lisboa. O desenvolvimento da disciplina e a consequente internacionalização dos estudos etnomusicológicos desenvolvidos em Portugal deu-se logo com o primeiro conjunto de pessoas formadas por Salwa El Shawan Castelo-Branco na FCSH nas quais se incluem Susana Sardo, Rosário Pestana, Jorge Castro Ribeiro que se dedicaram ao estudo da música em Portugal ou em territórios de língua portuguesa.
Foi no início do ano de 2007 que a investigadora Susana Sardo criou um polo do INET-md em Aveiro, sendo actualmente aquele que tem maior número de investigadores no âmbito dos cinco que existem em Lisboa, Aveiro e Porto.
Foi também a partir dessa altura que se veio a formar um conjunto de alunos que “são uma espécie de ‘terceira’ geração de etnomusicólogos portugueses”, nos quais se inclui Ana Flávia.
A investigadora não esquece, por isso, algumas das pessoas que foram fundamentais na criação do INET-md, mas também fundamentais para alcançar o estatuto que agora assume. “Chegarmos a este momento em que pela primeira vez se abre um concurso de carreira para investigação em música é, portanto, consequência da acção destas pessoas”.
“Fico muito orgulhosa de isto acontecer em Aveiro porque mostra como a nossa equipa reitoral também aposta nas artes e humanidades, colocando a Universidade de Aveiro na linha da frente”, diz a investigadora.
Fonte: Expresso das Ilhas