Festival Cultural de Cacheu – Reflexão sobre “Caminho de escravos”
A cidade velha de Cacheu, norte da Guiné-Bissau, acolheu nos dias 23 e 24 do mês em curso, a VIIª Edição do Festival Cultural de Cacheu que reuniu homens ligados à cultura, grupos tradicionais e académicos provenientes de todas as regiões, incluindo a diáspora, para refletirem sobre “Cacheu, caminho de escravos e porto de culturas”.
O festival foi promovido pela Organização Não Governamental – Ação para o Desenvolvimento (AD) em parceria com a ONG AIN Onlus, organizações não-governamentais e as autoridades regionais e contou com apoio do governo central, através da Secretaria de Estado da Juventude, Cultura e Desportos.
CIDADE VELHA ANIMADA COM RITMOS DA MÚSICA MODERNA E GRUPOS TRADICIONAIS
O festival realizado no âmbito do projeto “Cacheu, di si cultura e istória”, contou com o financiamento da União Europeia. A abertura do evento decorreu na presença das autoridades regionais e responsáveis das organizações não-governamentais, como também do titular da pasta da Secretária Estado da Cultura e Desportos, Florentino Dias.
Os promotores do festival convidaram vários músicos nacionais de renome internacional e grupos de ‘mandjuandadi’ que coloriram a cidade histórica com ritmos e sons da música moderna guineense e grupos tradicionais.
Entre os músicos nacionais de renome internacional, o destaque vai para Manecas Costa (natural de Cacheu), Zé Manel Fortes, a diva Dulce Neveis, Tino Trimo, Rui Sangara, entre outros. Todos animaram as duas noites do festival com sons de ritmos da música moderna e tradicional.
O festival foi dividido entre eventos de animação cultural (músicos e grupos de mandjuandadi), exposição de obras de arte e materiais tradicionais confeccionados por artistas nacionais e pontos de venda dos produtos locais e de livros, bem como uma conferência que decorreu sob o lema “Cacheu, caminho de escravos e porto de culturas”, que reuniu homens da cultura e académicos. Durante os dois dias, os participantes tiveram a oportunidade de visitar o “Memorial da Escravatura e do Tráfico Negreiro”, localizado junto ao porto da velha cidade.
O projeto “Cacheu, di cultura i istória”, de acordo com as informações apuradas, foi criado em 2016 para um período de quatro anos (2016-2019) e visa promover a conservação e valorização do património histórico e cultural da antiga cidade, como também promover as indústrias culturais para o desenvolvimento humano e crescimento socioeconómico, criando oportunidades de emprego e rendimento.
O objetivo dos promotores é contribuir para melhorar o acesso à cultura, tornando-a mais próxima das comunidades locais e da população do país.
SECRETÁRIO ESTADO DE CULTURA: “MEMORIAL DE CACHEU É UM SÍMBOLO CRUEL DA HISTÓRIA HUMANA”
Florentino Fernando Dias, Secretário Estado da Juventude, Cultura e Desportos, descreveu o memorial de Cacheu como “um símbolo cruel da história humana”, tendo acrescentado que o mesmo representa a resistência à segregação racial que ainda se reflete na raça humana por todo o mundo.
Aproveitou, no entanto, o momento para apelar a mais ações de gênero para desencorajar aquilo que considera de “ações separatistas e tendências extremistas”, particularmente neste período eleitoral que se avizinha.
Defendeu neste particular que a paz e estabilidade são condições inquestionáveis para a implementação de qualquer programa do desenvolvimento. Nesse sentido, aconselhou que cada guineense trabalhe para que os respetivos valores sejam consagrados na convivência política e social.
“A Guiné-Bissau é um país rico naturalmente devido a sua diversidade cultural e tem uma tradição de irmandade encantadora herdada pelo povo”, afirmou para de seguida assegurar que, enquanto responsável pelas políticas culturais públicas do país, lutará para criar condições para que os patrimónios culturais sejam fortalezas erguidas.
O diretor executivo da Organização Não Governamental – Ação para o Desenvolvimento (AD), Tumane Camará, assinalou que o projeto “Cacheu, caminho de escravos e porto de culturas” iniciado em 2016 visa promover a conservação e valorização do património histórico e cultural da cidade, bem como a promoção da indústria cultural e, assim, contribuir para o desenvolvimento humano e económico, através da promoção da participação comunitária.
O desafio daquela organização não-governamental, segundo Tumane Camará, é trabalhar para a internacionalização do festival de Cacheu, fato que para o diretor-executivo da AD, não se deve resumir apenas em lembrar ou falar do passado histórico, mas também perspectivar o futuro e trazer os significados científicos.
Fonte: O Democrata