Ruas de Luanda são a casa para mais de 400 crianças

Em várias artérias da capital de Angola vivem 465 jovens, com predominância para a faixa etária dos 14 aos 17 anos. A pesquisa foi realizada de março a junho deste ano pela organização “Voluntariado Internacional para o Desenvolvimento”.

Nos arredores do 1º de Maio, aeroporto, Golfe II, Baía de Luanda e Vila de Cacuaco é grande a concentração de jovens, entre os 10 e os 25 anos, a viveram na rua. Mas esta é uma realidade de várias artérias de Luanda, deficitária de um sistema de acolhimento que dê resposta a este problema.

Violência doméstica, vulnerabilidade social, pobreza e desestruturação de muitas famílias estão entre as principais causas desta situação, como constatou a organização “Voluntariado Internacional para o Desenvolvimento” (VIS), no âmbito do projeto “Vamos juntos”, responsável pela pesquisa nas ruas da capital angolana.

O estudo, cofinanciado pela União Europeia e agora apresentado, teve como grupo alvo jovens de ambos sexos. Foram efetuadas visitas regulares no período das 18.00 até às 22 horas, em 20 locais da cidade de Luanda. A Vila de Cacuaco ficou referenciada como a localidade com maior concentração de crianças e casais adolescentes na rua, onde foram contabilizadas 104 crianças e jovens, dos quais 31% meninas.

No total das 465 jovens, 30 % tem entre 10 e 14 anos de idade, 33% entre 15 e 17 e 28% estão na faixa dos 18 aos 25 anos.

A pesquisa teve como maior ênfase o sexo feminino e realça que as meninas se diferenciam dos rapazes, quer pelas atividades desenvolvidas quer pela mobilidade, uma vez que são as raparigas que voltam para casa com maior frequência e vão mantendo uma ligação com a família. Contudo, o tempo em casa não é duradouro, e a maioria volta para a rua.

O documento sublinha ainda que as raparigas preferem instalar-se em moradias ou espaços fechados e protegidos, como casas abandonadas ou um quintal cercado, desde que ofereça alguma segurança, de forma a fugir da violência e das ações de recolha da polícia. Também é habitual que integrem grupos masculinos e escolham a proteção de um homem, que muitas vezes acaba como namorado.

Todas as crianças entrevistadas na rua revelaram ter experimentado, pelo menos, um tipo de droga. Relativamente à saúde, as intervenções de primeiro socorro (feridas) são as mais frequentes, seguidas de infeções de pele e nos órgãos genitais, paludismo e tuberculose, bem como casos de gravidez precoce e VIH e sífilis.

De acordo com a responsável da educação e formação do “Voluntariado Internacional para o Desenvolvimento”, Ilenia Guasti, em declarações à agência de notícias de Angola, Angop, na maioria dos casos as adolescentes que engravidam-se precocemente não fazem consultas pré-natal, outras dizem abortar sobre orientação do companheiro ou pelo facto de o pai da criança não querer assumir a paternidade.

“A pesquisa foi realizada na cidade de Luanda, mas prevê-se realizar a recolha de dados em outras províncias para entender como é o fenómeno no país”, revelou aquela responsável, adiantando que dados adquiridos em instituições que trabalham com o fenómeno indicam que as províncias de Huambo e do Benguela são as que apresentam igualmente crianças a viverem na rua.

Fonte: Plataforma 

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