“Estou tão destruído quanto a minha cidade.” Mia Couto sobre a tragédia na Beira

O escritor moçambicano Mia Couto diz-se “destruído” pelo ciclone Idai cuja passagem pelo continente africano fez este domingo centenas de mortos.

A Beira, cidade natal do escritor e grande fonte de inspiração da sua obra literária, foi uma das mais atingidas pelo temporal: pelo menos 84 pessoas morreram segundo o último balaço (o presidente moçambicano acredita que mais de mil podem ter perdido a vida ), mais de 1.400 ficaram feridas e milhares estão desalojadas.

“Estou eu quase tão destruído quanto a minha cidade”, escreveu Mia Couto num e-mail enviado ao seu editor do grupo Editorial Caminho, e que o próprio acedeu revelar à TSF.

Depois da trilogia “As Areias do Imperador”, que terminou em 2017, o autor que atualmente reside em Maputo prepara-se para lançar este ano um novo livro sobre as suas memórias de infância na Beira.

“Estava determinado a ir para a Beira para mergulhar no espírito do lugar e agora, segundo me dizem, quase não há lugar. É como se me tivessem arrancado parte da infância”, lamentou Mia Couto na sua missiva ao editor.

A Beira era a personagem central do seu novo livro e agora o escritor confessa-se “perdido”. Conta que recebeu fotografias de uma igreja que fazia parte da sua história e agora está em ruínas. “É como se estivesse a escrever a história de um amigo que, entretanto, morresse.”

Mia Couto também não sabe o que aconteceu a muitos dos seus amigos de carne e osso. Em todo o país milhares de casas estão destruídas (mesmo as de alvenaria sofreram estragos consideráveis) e há localidades inteiras submersas numa emergência humanitária ainda por avaliar.

Oiça aqui as declarações de Mia Couto à TSF.

 

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