São Vicente: Canalizadora que não se arrepende da escolha feita apesar dos pesares
Danísia Alves é canalizadora há mais de dez anos e diz não se arrepender da profissão, apesar de alguns pesares com não ter trabalho fixo até agora e alguns “piropos” e discriminação, com que convive no seu dia-a-dia.
No Dia da Mulher Cabo-verdiana, que se assinalou ontem, a Inforpress esteve à conversa com Danísia Alves, uma mindelense, que desbrava caminhos num ofício, em que se encontra até agora poucas mulheres, a canalização.
O percurso desta emancipada começou quando fez a formação de manutenção de equipamentos industriais e hoteleiros no Atelier Mar, em 2007, em que disse sentir-se “tão confiante” desde a primeira entrevista e durante todo o curso, que partilhou com homens, mas também com outras colegas femininas.
Ser canalizadora não foi a sua primeira escolha, uma vez que tentou ingressar em outras profissões como polícia e guarda prisional, mas com os nove meses de formação, ganhou o “gosto pela coisa”.
“No tempo de estágio como não havia hotéis suficientes em São Vicente para acolher toda a demanda de formandos, alguns de nós, fomos encaminhados para fazer estágios em obras” conta a entrevistada da Inforpress, a quem cabeu-lhe as obras no edifício da Copa Cabana, onde estagiou na área de ar condicionado e frio e depois trabalhou após um ano.
Esta experiência ganha até lhe permitiu trabalhar na ilha do Sal, durante um ano e meio, e em construções com o Tortuga e Dunas Beach Resort.
“Lá fui me aperfeiçoando na área como canalizadora, ganhei mais experiência com apoio dos meus colegas, que me ajudaram muito”, explicou Danísia Alves, que considera haver um “bocado de preconceito” com a classe feminina, que envereda por esta área de canalização, que segue até agora.
“Existe preconceito sim, porque vais à procura de trabalho nalguns lugares e vês logo na reacção das pessoas, que não te querem ali”, reforçou, adiantando que por causa disso, depois de voltar para São Vicente, acabou por estar um tempo sem trabalho, e fazendo alguns biscates em casas de familiares e conhecidos.
Actualmente, depois de passar pelas obras do “Casa para Todos”, trabalha como prestadora de serviço com a Spencer Construções, ainda sem um emprego fixo, e num cenário em que se afigura a única mulher.
“Mas, valeu a pena e mesmo assim sinto orgulho da escolha que fiz, isto apesar dos assédios que tenho sofrido, não dos colegas do meu grupo, mas de outros profissionais homens que encontro nas obras”, asseverou Danísia Alves, que disse não se arrepender mesmo com as dificuldades que encontra ainda em conciliar a vida profissional com a familiar.
Entretanto, como a verdadeira batalhadora não desiste, aliás encara com “muita responsabilidade” esta sua profissão, em que deveria, a seu ver, também se criar uma Ordem, para “melhor” organização, mas também para impedir muitas pessoas de passarem por canalizadores, que têm provocado “muitas mazelas” nas construções de casas e outras.
Reportagem: Inforpress