Setor de Farim: Populares de Candjambari e Farandinto clamam por estrada e preocupados com ameaça de seca
Populares das tabancas de Candjambari, Maninha e Farandinto, no setor de Farim, região de Oio no norte da Guiné-Bissau, clamam por estrada em boas condições que permita a circulação normal dos habitantes daquelas localidades e mostram-se preocupados com a ameaça da seca que se regista todos os anos. Queixaram-se à repórter de O Democrata da ausência total dos serviços governamentais que deveriam beneficiá-los e demonstrar a presença forte do Estado guineense junto das suas populações.
O troço que liga aquelas aldeias à cidade de Farim é feito em terra batida (arreia e pedras), mas atualmente tem mais lama branca que faz levantar poeiras, a passagem de viaturas. Tem enormes buracos que dificultam a circulação das raras viaturas que por lá circulam, pelo que em algumas localidades os habitantes colocaram troncos de árvores cortados e pedras nos buracos para facilitar a circulação e impedir que carros e motos atolem nos buracos e lamas.
Já no período das chuvas, aquela zona torna-se intransitável, segundo nos conta um dos habitantes entrevistados, que, entretanto, avançou que devido às más condições do troço, nota-se mais a circulação de motorizadas, bicicletas e burros (animal) que fazem o serviço de transportes de cargas e de pessoas, das tabancas para a cidade de Farim.
HABITANTES PEDEM ESCOLAS E PROFESSORES PARA AS CRIANÇAS
A cidade de Farim, capital da região de Oio, situada na margem do rio Cacheu e que dista cerca de 115 quilómetros da capital Bissau, situa-se junto a fronteira com a República vizinha do Senegal. O setor de Farim é uma zona rica em recursos naturais, o fosfato principalmente, um mineral extraído de depósitos de rocha sedimentária.
Os responsáveis das diferentes aldeias abordados pela repórter foram unânimes em pedir a construção de escolas do ensino básico unificado naquelas zonas, dado que algumas aldeias dispõem apenas de escolas comunitárias construídas por populares e que funcionam com grandes dificuldades.
Avançaram igualmente que as escolas comunitárias funcionam graças a disponibilidades dos filhos da terra (habitantes locais) que concluírem o nono ano de escolaridade e que não têm condições para prosseguir os seus estudos na capital, resolvendo servir como professores para lecionar os seus irmãos nas tabancas. Por isso pediram ao governo a construção de escolas do ensino básico unificado nas aldeias. Contudo assegurou que não se deve limitar apenas a construir escolas, porque serão precisos professores capazes para lecionar as crianças.
Um dos habitantes da aldeia de Candjambari, o professor Abulai Gajicó, explicou entrevista que a sua aldeia está abandonada tendo em conta a distância da cidade de Farim, sobretudo devido à falta de uma boa estrada que facilitasse a circulação de viaturas, principalmente na época das chuvas.
Lembrou que transportar um doente para os hospitais de Farim ou Mansabá é a maior dificuldade que os habitantes sentem devido às más condições das estradas, tendo assegurado que muitas vezes as grávidas transportadas em ambulâncias hospitalares acabam por ter o parto pelo caminho, por causa das péssimas condições do troço, que não permite a circulação normal de viaturas.
Acrescentou que os familiares dos doentes ou os maridos das grávidas assumem os custos do combustível para a ambulância, de forma a transportar os pacientes ou as parturientes ao hospital. Frisou que não podem recorrer aos carinhos puxados por burros ou motorizadas para transportar grávidas devido aos riscos que correriam, por isso são obrigados a pagar os custos do combustível da ambulância para transportar os doentes.
“Muitas vezes é preciso contar com o fator sorte para conseguir uma ambulância, porque abanam muito no percurso das aldeias para Farim e servem também para evacuar doentes em casos graves, para Bissau. Quando não conseguimos ambulância, recorremos a motorizadas para transportar os pacientes para o hospital”, referiu para de seguida revelar que os técnicos de saúde recusam ir trabalhar nas aldeias longínquas da cidade de Farim, e que muitas vezes justificam-se com a falta de condições de estrada.
“Alguns centros de saúde dispõem de técnicos, mas muitas vezes é apenas uma pessoa que acaba por fazer todos os serviços oferecidos. Em caso de necessidade, partimos para o centro e muitas vezes encontramos apenas um ou dois técnicos a atender todas as pessoas vindas das aldeias próximas”, notou o habitante de aldeia de Candjambari, que entretanto, lamentou a falta de medicamentos que frequentemente se regista nos centros de saúde da sua aldeia.
Entretanto, a repórter deslocou-se ao centro de saúde de Candjambari para se inteirar do funcionamento do mesmo e abordar com a responsável a real situação da instituição, porém esta alegou não ter autorização superior para conceder entrevistas.
POLÍCIA DE ORDEM PÚBLICA REDUZ ROUBO DE GADO NA ALDEIA DE CANDJAMBARI
Relativamente à segurança naquela aldeia que enfrentou sérios problemas de roubo de gado, Abulai Gajicó explicou que nos últimos tempos a situação de segurança tinha melhorado e muito devido a presença de elementos da Polícia de Ordem Pública que têm combatido a criminalidade que se registava frequentemente. E recordou que a aldeia deparava-se sempre com problemas de roubo de gado bem como do conflito sobre a posse de terras.
“Muitas vezes os conflitos de posse de terra são resolvidos pelos comités de tabancas. Mesmo assim, alguns sentiam-se prejudicados. Recorreríamos a polícia de Farim e aí deparávamos com enormes problemas, sem vermos os nossos assuntos resolvidos, por isso a maioria prefere a intervenção dos comités ou solicitar a intervenção de elementos da polícia local que trabalham em colaboração com os comités”, contou o docente da escola primária da aldeia.
Outra dificuldade salientada pelo professor Abulai Gajicó é a falta de água potável que tem prejudicado muito a comunidade. Avançou que a sua aldeia conta apenas com um único furo de água construído através de um projeto financiado pela ONG Tostan Guiné-Bissau, onde toda a população de Candjambari e das aldeias vizinhas apanham água, após uma enorme filas por ordem de chegada.
Contou ainda que a comunidade começa a sentir a necessidade de corrente elétrica e que nos últimos tempos são obrigados a recorrer ao Senegal para comprar painéis solares a fim de poderem ter a iluminação solar a noite e recarregar as baterias de seus telefones móveis. Criticou que a maioria dos painéis adquiridos nas aldeias fronteiriças do Senegal, passados alguns meses apresentam sérios problemas de baterias e ficam impotentes.
Disse que agricultura é a atividade mais praticada nos últimos tempos, mas as más condições do troço dificultam a evacuação dos produtos. Sublinhou que os comerciantes senegaleses vão sempre à procura dos produtos e são obrigados a vendê-los a valores insignificantes comparativamente aos preços praticados em Bissau.
CENTRO DE SAÚDE DE FARANDINTO ABANDONADO E EM ESTADO AVANÇADO DE DEGRADAÇÃO
Os populares de secção de Farandinto ouvidos pela repórter lamentam o não funcionamento do centro de saúde local. O centro encontra-se atualmente em estado avançado da degradação com fendas nas paredes e buracos nos telhados.
Quecese Insumba, um dos habitantes de aldeia de Farandinto, explicou que a ausência do centro de saúde leva as gravidas a darem à luz em casa, tendo assegurado que os casos graves ou complicados são evacuados para o hospital.
Informou que a evacuação de doentes ou das grávidas para o hospital de Farim são feitos de canoa a motor, porque a evacuação de doentes de canoa é mais fácil e rápida em relação às viaturas, por causa do estado do troço que liga a aldeia à Farim.
Reportagem: O Democrata