Livro de Fernando Lima destaca rumo definido de Macau na nova década
O livro “Macau – Um Diálogo de Sucesso” de Fernando Lima (Edição do Instituto Internacional de Macau, 197 páginas) é lançado hoje em Macau e incluiu fotografias, uma cronologia e o texto da Declaração Conjunta do Governo da República Portuguesa e do Governo da República Popular da China sobre a Questão de Macau.
O jornalista Fernando Lima, autor do livro “Macau – Um Diálogo de Sucesso” conclui, 20 anos após a transferência de soberania, que Pequim reconhece a identidade do território que entra numa nova década com rumo definido.
“No seu relacionamento com a Região Especial Administrativa Especial de Macau (RAEM) nos últimos vinte anos, a China soube interpretar o que Macau podia contribuir para o enriquecimento da dimensão global que adquiriu com a sua capacidade de maior potência emergente do século XXI”, escreve Fernando Lima no livro “Macau – Um Diálogo de Sucesso”.
O autor sublinha que como Região Administrativa Especial, Macau “entra na nova década” com um “rumo definido” porque Pequim foi capaz de reconhecer a vocação histórica do território como entreposto privilegiado entre povos e culturas, adaptando-a às suas conveniências geoestratégicas ao consagrar a região como plataforma de cooperação com “o mundo lusófono”.
“Macau – Um Diálogo de Sucesso” é a edição revista do segundo volume da obra “Macau – As Duas Transições” publicada em 1999 e destaca os esforços diplomáticos de Portugal e da República Popular da China, sobretudo no período entre o 25 de abril de 1974 e a assinatura da Declaração Conjunta em 1987.
Ao longo do livro, o jornalista Fernando Lima enquadra o processo diplomático nas questões políticas internas portuguesas como a crise política de 1987 que conduziu à queda do X Governo Constitucional, de Cavaco Silva, que ocorre “precisamente” quando os negociadores da Declaração Conjunta tinham chegado a acordo.
“A surpresa não podia ser maior para os chineses que, num primeiro momento, se sentiram desconcertados com as eventuais consequências da instabilidade portuguesa. Mas, o maior paradoxo é que na sua origem estaria a visita de uma delegação de deputados portugueses à União Soviética, com a qual a China mantivera um prolongado conflito”, recorda Fernando Lima.
Na ocasião, a inclusão da Estónia no programa da visita à União Soviética, entre 10 e 15 de março de 1987, de uma delegação parlamentar portuguesa levou a que o Governo manifestasse publicamente “a sua discordância” devido ao papel de Portugal na Aliança Atlântica.
Fernando Lima destaca igualmente as posições do PCP no “processo” de Macau referindo-se nomeadamente à única visita do secretário-geral do partido Álvaro Cunhal à China entre os dias 08 e 12 de dezembro de 1986.
No regresso a Lisboa, o então secretário-geral do PCP declarou que, entre outros aspetos, tinha insistido junto dos dirigentes chineses na necessidade de assegurar a presença cultural portuguesa em Macau.
“Afirmou, neste contexto: ‘Lembrámos a necessidade de preservar em Macau a lembrança de Camões e da obra-prima do Renascimento e da Literatura de Portugal que são ´Os Lusíadas’”, recorda Fernando Lima referindo que o “problema da nacionalidade” dos cerca de 80 mil habitantes do território com passaporte português esteve presente nas conversações entre os comunistas portugueses e as autoridades da República Popular da China.
Vinte anos após a transferência de soberania e referindo-se à fase final do período da presença da Administração portuguesa, durante o governo de Rocha Vieira, o autor escreve ainda que os “traumas” da descolonização em África e Timor-Leste exigiam que Portugal saísse de Macau com a “dignidade salvaguardada”.
No prefácio da presente edição, o embaixador António Martins da Cruz, ex-ministro dos Negócios Estrangeiros, afirma que Macau foi sempre “no imaginário lusitano” o mais misterioso dos territórios e das colónias pela “porosidade do seu estatuto” acrescentando que um dos “horizontes do futuro” passa pela implementação da “Grande Baía”, integrando Guangdond, Macau e Hong Kong.
Fernando Lima desempenhou funções de chefia no Centro de Informação e Turismo do Governo de Macau entre 1974 e 1976; foi jornalista do JN e diretor do Diário de Notícias e da ANOP e ocupou, entre outros, o cargo de assessor de Cavaco Silva como primeiro-ministro entre 1986 e 1995 e depois assessor da Casa Civil do ex-presidente da República (2006-2016), tendo sido afastado na sequência do “Caso das Escutas” período sobre o qual escreveu o livro “Na Sombra da Presidência”.
Fonte: Lusa