Alunos do Príncipe aprendem sobre ciência em caminhadas na floresta
Um grupo de estudantes do liceu sobe a montanha, na ilha do Príncipe, ao som de música são-tomense, e vai parando para ouvir explicações de investigadores e professores sobre ciência.
Desde manhã cedo, grupos de alunos dos liceus da ilha do Príncipe, divididos em dez grupos, percorrem os ‘Trilhos da Ciência’, subindo desde a localidade de Gaspar por caminhos rodeados por vegetação abundante. Pelo caminho, protegem-se com folhas enormes da planta ‘coça-coça’ a servir de chapéu-de-chuva.
O destino é a roça Sundy, o local onde, a 29 de maio de 1919, o astrónomo inglês Arthur Eddington observou um eclipse total solar e comprovou a Teoria da Relatividade Geral formulada por Albert Einstein quatro anos antes.
Durante o percurso, ouviram falar sobre a planta ‘não me toques’, cujas folhas se fecham quando são tocadas, para minutos depois reabrirem, simularam eclipses e fizeram exercícios de matemática, entre outras atividades.
A última ‘estação’ é já em plena roça Sundy, no sítio onde Eddington colocou o telescópio para observar o eclipse solar, que ocorreu pelas 14:00 e durou pouco mais de seis minutos.
“O Príncipe ficou totalmente escuro e foi possível ver a penumbra do sol e também as estrelas a brilhar”, relatou aos alunos Silvestre Umbelina, professor de Física e Matemática na escola secundária local.
Apesar de o dia 29 de maio de 2019 ter amanhecido com mau tempo, o céu estava “praticamente limpo” à hora do eclipse e a equipa chefiada por Eddington conseguiu tirar 12 fotos, das quais “só cinco estavam em condições de permitir medir o ângulo das estrelas”.
Einstein previa que houvesse uma diferença de 1,75 graus da localização das estrelas face ao que se observava e os astrónomos observaram “uma diferença mínima de 0,14”.
“Consideraram que a teoria [da deformação espaço-tempo] estava comprovada”, comentou Silvestre Umbelina.
A iniciativa decorreu no âmbito das comemorações dos 100 anos da comprovação da Teoria da Relatividade Geral, que acelera, por estes dias, o ritmo desta ilha – classificada como Reserva Mundial da Biosfera da Unesco -, normalmente pacata.
Os ‘Trilhos da Ciência’ são uma destas iniciativas, a par de várias palestras, observações noturnas das estrelas ou a inauguração do Espaço Ciência Sundy, um espaço museológico onde será recordada a história da comprovação da Teoria da Relatividade Geral.
“Está a nascer na roça Sundy um centro de ensino de ciências, um espaço muito importante para apoiar os alunos. Há vários cientistas de todo o mundo que estão a enriquecer o centro para possibilitar aos alunos uma experiência mais próxima da investigação científica”, explicou à Lusa a professora de Astronomia Rosa Doran.
A ideia dos ‘Trilhos da Ciência’, promovidos pelo Grupo Lusófono de Astronomia para o Desenvolvimento, “é levar a investigação cientifica até à sala de aula e dar formação aos professores para que eles próprios possam aproveitar estas oportunidades, melhorem o seu desenvolvimento profissional, e que saibam fazer investigação cientifica na sala de aula”, acrescentou.
Antes de se embrenharem nos caminhos, Daniel, um guarda florestal, pede aos alunos que desliguem a música. Afinal, aquela é uma zona de floresta protegida e o ruído perturba os animais.
Fonte: Lusa