Ação climática aumenta a segurança hídrica e alimentar em São Tomé e Príncipe
José Oquiongo trabalha como horticultor em São Tomé e Príncipe (STP) há 20 anos. Durante esse período, ele tem enfrentado muitas dificuldades, especialmente na obtenção de água suficiente para irrigação durante os três meses da estação seca em STP, que vai de junho a agosto, chamada de “gravana”.
Hoje, graças à instalação de um novo sistema de irrigação, ele está muito mais otimista em relação ao futuro. “Na última colheita, mesmo na estação seca, eu fui capaz de produzir 100 sacos de repolho para vender. Antes eu não produzia nem um saco” – disse José Oquiongo.
Seu colega Manuel Camilo fala também das dificuldades que os agricultores das comunidades de Bom de Sucesso e Terra Batata não precisam mais enfrentar: “Na gravanaquase ninguém trabalhava; nós só produzíamos em pequenas quantidades para consumo familiar. Mas agora já trabalhamos porque temos água.”
ÁGUA TRANSFORMA
Oquiongo e Camilo estão entre os 180 agricultores que foram beneficiados por um novo sistema de irrigação inaugurado em dezembro de 2016. Agora, as mulheres e os homens que trabalham no Distrito de Mé-Zochi – onde se localiza Bom Sucesso e Terra Batata –, no centro da ilha de São Tomé, têm garantia para uma vida profissional mais sustentável.
Para São Tomé, essa região fértil abriga a maior concentração de horticultores do país, e é também a fonte de abastecimento de produtos frescos – dentre eles tomate, pimentão, couve, vagem e cenoura – da maior parte do país.
Nos últimos anos, várias iniciativas implementadas pelo governo de São Tomé e Príncipe, com o apoio de parceiros multilaterais e bilaterais, visaram garantir o acesso a recursos hídricos preciosos ao longo do ano.
RESILIÊNCIA CLIMÁTICA ABRANGENTE
Esses esforços incluem o projeto financiado pelo Fundo Global para o Ambiente, GEF, intitulado Reforço das capacidades das comunidades rurais para a adaptação aos efeitos das mudanças climáticas em São Tomé e Príncipe, nos distritos de Cauê, Mé-Zochi, Região Autónoma do Príncipe, Lembá, Cantagalo e Lobata”, implementado com o apoio do PNUD.
Muito mais do que simplesmente levar água para as comunidades onde o fornecimento é escasso, esse projeto está a apoiar na criação de comunidades mais resilientes aos efeitos da mudança climática.
Em parceria com o Ministério da Agricultura, Pescas e Desenvolvimento Rural, o projeto está a trabalhar para aumentar a resiliência dos meios de subsistência das comunidades rurais “para que os agricultores estejam em melhores condições de lidarem com qualquer choque climático”, como acrescentou a coordenadora da iniciativa, Dinasalda de Ceita.
“Queremos resolver o problema da falta de água durante a estação seca. Os agricultores têm sofrido uma queda na produção porque eles não podem produzir durante todo o ano, e por isso esperamos que eles consigam produzir mesmo com a redução da chuva”, explicou Dinasalda.
Os aumentos na produção não foram as únicas mudanças trazidas pelo sistema de irrigação, conforme afirmou o horticultor José Oquingo: “No meu lote sempre trabalhei com a ajuda de duas pessoas, mas como sei que água não será um problema, já contratei mais uma pessoa para ajudar”.
MITIGAR AS CONSEQUÊNCIAS DAS ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS
Como um pequeno Estado Insular, São Tomé e Príncipe já sofre os efeitos da mudança climática, com consequências na agricultura, na pesca e na economia.
Na agricultura, essas consequências são mais visíveis com o aparecimento de pragas e doenças que têm afetado várias plantações, assim como no excesso ou na escassez de água durante o ano.
“Antes, as estações chuvosa e seca estavam bem definidas. Hoje, não podemos mais controlar isso, o que complica as coisas para nós na hora do plantio”, disse José Oquiongo.
Aida Joaquim trabalha com o marido, os filhos, e um outro empregado em dois hectares de terra que ela possui em Bom Sucesso. O seu lote é a fonte do sustento da família e fornece fundos para os uniformes e os materiais escolares dos filhos.
“Eu plantei as sementes de cenoura pensando que não ia chover mais. Mas choveu muito e eu perdi quase tudo” – perdas que implicam na redução da renda familiar e na diminuição do potencial humano.
APRENDER COM O PASSADO
Esta não é a primeira vez que um sistema de irrigação foi construído nas comunidades de Bom Sucesso e Terra Batata. No entanto, este projeto foi estruturado para evitar erros anteriores. Através do Centro de Apoio ao Desenvolvimento Rural (CADR) do Ministério da Agricultura, Pescas e Desenvolvimento Rural, a iniciativa está a apoiar os agricultores na implementação de um modelo de gestão do sistema de irrigação desenvolvido para garantir que todos os agricultores possam beneficiar da água de que precisam para poderem produzir.
“Nós acreditamos que é importante incentivar a criação de um modelo de gestão que garanta que todos os agricultores/horticultores sejam verdadeiramente beneficiados. É um investimento que só fará sentido se for para todos”, explicou Armando Dias Monteiro, técnico da CADR.
“Nós estabelecemos um cronograma diário para garantir que todos tenham água em seus lotes. Assim, um grupo tem água na segunda-feira, o outro na terça, e depois começamos a mesma distribuição novamente”, ele acrescentou.
ALCANÇAR AS METAS GLOBAIS
Além de melhorar o acesso à água – como parte integrante da garantia de segurança alimentar e saúde –, este projeto ajudou a fortalecer a resiliência das opções de subsistência da comunidade rural contra os impactos da mudança climática.
A iniciativa também tem contribuído para o avanço dos esforços de STP para alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), principalmente em relação aos seguintes objetivos: 1 (erradicação da pobreza), 2 (fome zero e agricultura sustentável), 3 (saúde e bem-estar), 6 (água potável e saneamento), 13 (ação contra a mudança climática) e 15 (vida terrestre), entre outros,
Fonte: undp-adaptation.exposure.co