Boa Vista: Luísa Mosso da Escola de Olaria receia pertencer à última geração a trabalhar o barro

Luísa Mosso da Escola de Olaria de Rabil teme pertencer à última geração a trabalhar no barro sendo que não há jovens com interesse a aprender este ofício.

Luísa Mosso fez estas considerações em entrevista à Inforpress na Escola de Olaria, criada em 1960, onde há mais de 30 anos começou a aprender com o irmão Alcides Morais “Tony” a trabalhar no barro, de onde tirou o sustento para criar os seus quatro filhos.

Mas antes, ainda com nove anos, já ajudava a mãe Cassilda “Jovina” em casa a fazer os preparativos da matéria-prima que é extraída na “fonte” em Ribeira de Rabil, em barreiro.

Ali era triturada e enchida num saco e levada até as residências para ser molhada e trabalhada. E Cassilda, por sua vez, aprendeu com uma geração ainda mais antiga, mais precisamente com uma senhora que era conhecida por “Biazinha”.

“Como estou a ver já seremos a última geração a trabalhar no barro, porque já não vejo os mais novos com interesse em aprender”, disse Luísa Mosso, mostrando-se disponível em mais do que ajudar os jovens a fazer deste trabalho um meio de auto-sustento, ensinar um ofício que faz parte da história tradicional da cultura oleira na ilha da Boa Vista.

Actualmente são cinco artesãos, todos familiares que moldam o barro com destreza e habilidade, ainda com algumas técnicas ancestrais e que preservam a tradição oleira que aprenderam com os antepassados.

“Tenho uma filha que faz um jeito. Ela está a estudar engenharia civil em São Vicente. Mas não quis se dedicar de forma profissional”, justifica Luísa, acrescentando que se antes este foi a fonte de rendimento para a sua família, hoje já não vê esta profissão a singrar-se nem mesmo dentro da sua árvore genealógica.

Entretanto, Luísa contou um pouco da história e das mudanças da Escola de Rabil, que outrora pertencia a um português de nome Mário, que durante muitos anos produziu peças de artesanato e telhas, com algumas das quais, ainda nos dias de hoje, se cobrem as casas de Rabil.

Depois do abandono, o espaço tornou-se um pardieiro. Mas decidiram juntar as forças limpar e começar uma luta diária para tornar a escola num espaço que é hoje, considerado para os artesãos que ali trabalham, um santuário da olaria da Boa Vista.

Entretanto, segundo explicou, não se interessaram em apreender e seguir a indústria e o negócio de telha, além do mais as máquinas estragaram com o tempo por falta de uso.

“A cada dia vamos aperfeiçoando o nosso trabalho, e isso conseguimos com muita prática”, disse Luísa, enquanto acrescentava detalhes na escultura de peças de tartaruguinhas, uma das mais vendidas para os turistas.

A este aperfeiçoamento, acrescenta-se o gesso, colocação de vidros e ainda construção de peças maiores, como vazos. Se outrora as técnicas de trabalhar o barro eram outras, o comércio, e a forma de produção das peças também registou mudança.

Em tempos antigos, “Cassilda”, mãe de Luísa, aguardava por Nené de Regina para comprar as suas peças e serem vendidas noutras ilhas. Hoje em dia os turistas dirigem-se à escola para comprar os souvenirs.

Para escoar os produtos, vendem-nos também para outras lojas de souvenirs na cidade, alguns hotéis que às vezes fazem alguma encomenda. Já existe também as formas onde tiram os moldes, o que fez aumentar a fabrico, substituindo a produção individual manualmente.

Luísa Mosso contou que actualmente “trabalham por conta própria, mas ao mesmo tempo em regime de cooperativa, em que cada um tira uma cota para dividir as despesas do espaço, de luz, água, entre outras”.

Mesmo com este receio de falhar esta passagem deste testemunho aos mais novos, Luísa garante que vai continuar diariamente a trabalhar neste ofício que escolheu para ser sua profissão, disse ao menos que dá para sobreviver.

“Eu sinto-me bem a fazer este trabalho. Aqui faço o meu trabalho tranquilo sem stress”, concluiu a artesã que continuou o seu trabalho com a paciência e destreza exigida nestes ofícios feitos com as mãos.

Fonte: Inforpress

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