Meninas líderes da Guiné-Bissau querem “remover barreiras e normas socioculturais” para gerar mudanças no país
Fatucha da Silva, 16 anos, é uma das 150 jovens raparigas (dos 16 aos 28 anos) reunidas na primeira escola para futuras líderes que querem mudar a Guiné-Bissau, começando pela remoção de barreiras e normas socioculturais.
A Escola não é mais que sessões de formações e de dinâmicas sociais entre as 150 jovens, divididos em sete grupos que se espalham um pouco por todos os cantos da cidade de Canchungo, situada a 70 quilómetros de Bissau.
Com animadoras (médicas, professoras, advogadas e artistas) as jovens vão apreendendo um pouco de tudo com profissionais mais rodados na vida, na perspectiva de um dia assumirem-se como líderes das suas comunidades, organizações ou mesmo dirigentes do país.
Umas, ainda têm dúvidas sobre aquilo que gostariam de ser quando atingirem a fase adulta da vida, mas outras já têm na ponta da língua a resposta sobre o que pretendem na hora de assumir responsabilidades.
É o caso da Fatucha Silva, estudante do 10º ano no liceu João XXIII de Bissau, que quer ajudar a mudar “a má imagem da Guiné-Bissau” a partir do sonho de ser um dia apresentadora na Televisão guineense.
Profundamente inspirada no lema da Escola Nacional das meninas e mulheres líderes, Fatucha concorda que o primeiro passo é a remoção das barreiras socioculturais que acabam por dividir a forma de se educar uma rapariga de um rapaz.
“As meninas não têm voz, enquanto ao rapaz é permitido dizer tudo e mais alguma coisa”, diz Fatucha que estes dias, conta, dispensa “muita atenção” às aulas quando o tema é técnica de falar ao público, fazer um discurso ou como desenvolver uma liderança servidora, conceitos que elege como fundamentais para a materialização do sonho de falar na televisão .
Fatucha está feliz não só pelo facto ter tido oportunidade de conhecer outras meninas, sobretudo as do interior da Guiné-Bissau, mas porque acredita que “os jovens é que vão mudar o país” e deixar de lado o rotulo de serem apenas apreciadoras de festas e de vida fácil.
Para a menina dos olhos negros, as festas fazem parte da vida de uma jovem, mas são os mais velhos (os adultos) que catalogam as raparigas daquela forma.
Fatucha não liga muito “à má língua dos adultos” por entender que os jovens serão os portadores da verdadeira mudança, “mas as meninas é que serão os alicerces” do processo da mudança.
Menina que se destaca pelo sorriso fácil e questionamento permanente às animadoras das aulas da sua oficina que decorrem à beira – rio, Fatucha da Silva sonha “não tarda nada” estar “com competências e bagagens”, na linha de frente como estrela da Televisão da Guiné-Bissau.