Moçambique: Dois livros, regresso à infância e tributo à terra

É um regresso à casa, afinal a 21 de Setembro de 1960 Hélder Muteia nasceu em Quelimane. Mesmo mantendo uma ligação forte com a capital da Zambézia e com a província inteira, o poeta e escritor nunca conseguiu lançar ou apresentar livros da sua autoria na terra natal, em 31 anos de percurso literário, a contar a partir do lançamento do seu primeiro livro, Verdades dos mitos (1988). A oportunidade surge agora, assim, na asa da literatura, o autor regressa à cultura que lhe deu de beber um modo de estar na vida.

Com efeito, a cerimónia de apresentação dos livros Nhambaro e O barrigudo e outros contos está marcada para as 15h30, hora local, do dia 22 deste mês, no auditório da UniLicungo – Campus Coalane. Por esta ser a primeira vez que vai apresentar os livros na Zambézia, há em Muteia um misto de emoções que se cruzam.

“Para mim é muito significativo poder apresentar os meus livros na minha terra natal. A cerimónia do dia 22 será uma oportunidade para me reencontrar, até porque quando nós partimos para a nossa origem refazemos toda uma carga emocional. Vou finalmente pagar uma dívida e creio que agora vou completar um ciclo no meu percurso”.

Muitos aspectos da obra de Hélder Muteia reflectem uma carga emotiva da sua infância, o que o autor viveu e aprendeu na Zambézia. “É verdade que também vivi três anos no Chimoio. Sem dúvidas que a província de Manica também deu-me muito.

Maputo também, pois cá passo o resto da minha vida. Mas é na Zambézia onde está a minha base, o ponto de partida, e é para lá que pretendo devolver o essencial da minha obra”.

Mesmo a propósito dessa ligação com a terra natal, o que inclui a conexão com a cultura local, Nhambaro, título lançado em 1996, agora reeditado pela Alcance Editores, é o nome de uma dança muito especial da baixa Zambézia, segundo o escritor, que revela uma maneira de fazer as coisas e de estar na vida.

Hélder Muteia acredita que o acto de apresentar os seus dois livros em Quelimane constitui uma oportunidade para revigorar o espírito literário da Zambézia, província que, garante o escritor, sente a poesia de forma muito especial, por isso haver muitos poetas zambezianos.

Nesta espécie de sonho por realizar, no entanto, nem tudo é motivo para sorrir.

Dói ao poeta o facto de muitas livrarias estarem encerradas na maior parte das províncias do país. “É mesmo de lamentar, creio que o Governo tem de fazer alguma coisa para que as livrarias continuem a disponibilizar livros para o público, pois sem leitura as pessoas não se desenvolvem, e sem aproximarem-se à sua cultura através da literatura as pessoas não se afirmam. Então é importante o retorno das livrarias para que no mínimo possam disponibilizar o que é produzido em Moçambique do ponto de vista literário”.

Fonte : O País

Partilhe esta história, escolha a plataforma!