Inventores guineenses mostram criações na primeira feira de inovação e tecnologia em Bissau
Juliana e Dionilde são duas criadoras guineenses que até sexta-feira estão a expor os artefactos que produzem a partir de lixo, no primeiro salão nacional de invenção e inovação tecnológica (Sanaiit), onde se pode encontrar de artesanato a remédios.
O salão é co-organizado pela Direção-Geral da Propriedade Industrial e a Estrutura Nacional de Ligação da Guiné-Bissau com a Organização Africana da Propriedade Intelectual (OAPI), do Ministério do Comércio e Indústria.
Juliana estudou Gestão dos Recursos Humanos e a amiga Dionilde cursou Ambiente. Ambas frequentaram universidades no Senegal, onde há um ano expuseram os seus artefactos criados a partir do lixo reciclado, numa mostra organizada pela Greenpeace. Na Guiné-Bissau é a primeira vez que estão a revelar-se ao público.
As duas aguardam pela colocação em trabalhos formais de acordo com a sua formação. Enquanto aguardam, Juliana e Dionilde percorrem ruas de Bissau à procura do material deitado nas várias lixeiras a céu aberto.
Juliana e Dionilde moram em bairros diferentes, mas têm a mesma paixão: criar coisas, do artefacto da cozinha ao material de uso caseiro (como vasos para flores, tapete de sala, cesta do pão) ou mesmo bijuterias para senhoras, nomeadamente brincos, carteiras e colares, tudo à base de garrafas de plástico e de vidro, sacos de plástico, papelão ou pacotes do vinho que apanham por aí.
Sentadas numa das várias tendas montadas num espaço de diversão no coração de Bissau, com produtos de vários criadores, as duas amigas dão os últimos retoques em enfeites para cozinha feitos a partir de sacos de plástico e num ramo de flor construído a partir de garrafas de plástico.
Ainda têm à mostra brincos feitos a partir do papelão, bolsas de senhora feitas com restos de caixas do vinho.
As duas amigas dizem que vão aguardar pelo trabalho formal nas áreas em que se formaram em Dacar, mas até lá vão continuar a apanhar lixo e reciclar, para desta forma “ajudar a limpar a cidade”e arranjar algum dinheiro, mas a meta de ambas é ensinar a mulheres portadoras de deficiência a arte de “fazer coisas a partir do lixo”.
No ‘stand’ ao lado, um inventor vindo de Susana, no norte da Guiné-Bissau, trouxe até ao Sinaiit uma máquina de produção de blocos de cimento para construção civil. A máquina não é mais que um bidão de 200 litros acoplado a um pequeno motor com um funil por cima com o qual o inventor tritura garrafas de vidro, que é adicionado ao cimento para revestir os blocos.
“Os blocos ficam como ferro”, diz, confiante, um jovem que explica aos que visitam o stand como funciona a engenhoca.
Os criadores do CIFAP – Centro de Instrução Formação Artesanal e Profissional, ligado à igreja católica, levaram ao salão maquinaria produzida em Bissau, desde diferentes estilos de colmeias (para extração do mel), prensas para tirar o óleo de palma, centrifugadoras como fogão feita à base de argila.
Das ilhas Bijagós, no sul da Guiné-Bissau, vieram invenções como máscaras artesanais, chinelos de banho feitos à mão, pinturas de quadros, cabaças desenhadas com motivos intrínsecos aos povos das ilhas e, da região de Biombo, no nordeste, estão expostos panos e bolsas para mulheres.
Do sul da Guiné-Bissau, da localidade de Buba os criadores trouxeram ao salão produtos medicinais feitos à base de ervas e plantas, também mel, bacalhau do rio local, como sabão e azeite feitos com recurso aos frutos silvestres.
Juliana e Dionilde não sabem se os criadores vão conseguir vender todos os produtos, mas de uma coisa têm a certeza: “Valeu a pena, finalmente” estarem a mostrar aos guineenses o seu trabalho, que ambas fazem questão de dizer ser “feito com muito amor”.
Fonte: Lusa