Rádio Mulher de Bafatá quer ajudar a mudar a Guiné-Bissau

A Guiné-Bissau tem cerca de 40 rádios comunitárias, mas há mais de um ano que a Rádio Mulher de Bafatá, no leste, está no ar com propostas para mudar a mentalidade e a presença feminina nas esferas de decisão.

A RMB tem várias particularidades: dos 14 colaboradores da estação, apenas dois são do sexo masculino e ambos são seguranças, o resto é constituído por jovens jornalistas recrutadas pela associação “Jornalistas Solidários de Espanha”, impulsionadora do projeto.

A associação foi criada por um jornalista espanhol que se interessou por uma história de um guineense, de uma aldeia de Bafatá, que acabou morto no mediterrâneo quando tentata chegar a Espanha, num processo de emigração clandestina.

As 11 jornalistas da estação nunca tinham trabalhado numa rádio.

Uribela Baldé de 24 anos é a diretora e Lolita Candé, de 30, é a chefe da redação. Ambas têm um discurso semelhante em tudo: “Ajudar a mudar a mentalidade das mulheres de Bafatá e elevar a sua participação nas esferas de decisão nas comunidades e no próprio país”.

Uribela Baldé explicou à Lusa ter-se apaixonada pelo projeto desenhado pelo jornalista espanhol José Benzerano “que compreendeu o quão difícil é a vida das mulheres e jovens da aldeia”, de onde partiu o jovem guineense que morreu no mediterrâneo na tentativa de chegar à Espanha.

Benzerano acompanhou a transladação do corpo do malogrado e quando chegou à aldeia percebeu que não podia ficar apenas pelo relato noticioso da tragédia uma vez que percebeu que todos os jovens tinham o sonho de tentar a sorte através da emigração clandestina, referiu a chefe da redação da RMB.

Em colaboração com outros jornalistas espanhóis, Benzerano desenhou o projeto de uma rádio que pudesse informar e sensibilizar sobre os riscos da emigração clandestina e também que ajudasse a empoderar as mulheres da aldeia. De pronto a ONU abraçou a ideia, conta Uribela Baldé.

Dezasseis associações comunitárias de mulheres da região de Bafatá juntaram-se ao projeto, Uribela (que faz parte de uma organização que trabalha no domínio da segurança alimentar) foi escolhida para diretora da estação, a ativista pelos direitos das mulheres, Monde Baldé, foi eleita presidente de um conselho de administração e Lolita Candé designada chefe da redação.

“A nossa rádio dá a voz às mulheres e crianças da região de Bafatá”, disse à Lusa a chefe da redação. Bafatá é uma das zonas da Guiné-Bissau mais afetadas com problemas do casamento forçado, casamento precoce das raparigas, Mutilação Genital Feminina ou abandono escolar das meninas.

A RMB aborda esses assuntos, mas também está sempre atenta às propostas dos políticos para a melhoria das condições de vida da população feminina, enfatizou a chefe da redação.

Lolita Candé disse que a RMB já se está a preparar para a cobertura dos passos dos candidatos à Presidência da República nas eleições de 24 de novembro, recolhendo as suas propostas para difundir nos seis setores que compõem a região de Bafatá onde chegam as emissões que estão no ar, diariamente, das 15 às 21 horas.

Tirando o problema da corrente elétrica, que faz com que as emissões não sejam ininterruptas, as duas jovens responsáveis da rádio garantem sentir “pequenas mudanças nas mulheres” de Bafatá a começar pelas próprias jornalistas que hoje já deixaram de lado a timidez de falar ao microfone e ao público.

Fonte: Lusa

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