Filme “Variações” de João Maia em antestreia brasileira no festival IN-EDIT

O filme biográfico “Variações”, de João Maia, vai fazer a sua antestreia no mercado brasileiro no IN-EDIT, um festival de documentários musicais que decorre a partir de quarta-feira, até 20 de setembro, revelou a organização.

A obra que retrata a vida do excêntrico cantor e autor português faz parte da “Mostra Portugal”, a novidade do festival internacional que, no Brasil, vai para a 12.ª edição, e é uma exceção ao formato de documentário entre os seis títulos portugueses selecionados em resultado de uma parceria com o Camões – Instituto da Cooperação e da Língua.

Em entrevista à agência Lusa, o curador do IN-EDIT, Marcelo Aliche, explicou que a abertura de uma exceção para a antestreia do filme de João Maia no país “não é uma coincidência” e que a organização vê como “uma honra” a possibilidade de dar a conhecer António Variações no outro lado do Atlântico.

“Primeiro que tudo, o filme é muito bom! Temos muito prazer em receber a pré-estreia no IN-EDIT e em fazer com que as pessoas prestem mais atenção não só à música e ao cinema português, mas também ao Variações, que é ‘um cara’ fantástico. O filme tem muito a ver com essa Mostra [Portugal], é uma composição de época, com um ator excelente [Sérgio Praia], é bem bacana”, disse à Lusa Marcelo Aliche.

Em exibição estarão “seis títulos portugueses de produção recente” que expressam a “diversidade cultural” do país e a sua “disponibilidade para interagir com outras culturas”, explica uma nota de imprensa enviada à agência Lusa, onde se refere que, “do fado ao kuduro, passando pelo rock n’roll e chegando ao cante alentejano”, a mostra apresentará ao público brasileiro “um rico retrato dos horizontes musicais do país ibérico”.

Além de “Variações”, a Mostra Portugal no IN-EDIT do Brasil vai apresentar documentários como “Vadio – I am not a poet”, de Stefan Lechner, “Batida de Lisboa”, de Rita Maia e Vasco Viana, “Zé Pedro Rock n’Roll”, de Diogo Varela Silva, “7 Évoras em Kepa”, de José Coimbra e Tiago Guimarães, e ainda “Silêncio – Vozes de Lisboa”, de Judit Kamár e Céline Costa Carlisle.

Uma seleção que Aliche refere com orgulho que foi toda feita por si, e da qual destaca “Vadio”, que é “espetacular pela forma como mostra o culto do fado e a noite de Lisboa, mas também pela escolha do personagem”, assim como “Batida de Lisboa”, um filme sobre músicos de diferentes gerações e origens, como Angola, São Tomé, Cabo Verde e Guiné-Bissau, que Aliche afirma que é “necessário em qualquer país onde os imigrantes estão a conseguir um papel cultural muito importante”.

“Trazem uma carga cultural dos seus países de origem, encontram uma cultura nova e conseguem trazer essas referências para o seu trabalho artístico. Essa integração é muito boa em Portugal. Por exemplo, Londres é multicultural, mas lá essas culturas não se misturam, enquanto os portugueses têm um talento especial para o multiculturalismo, onde todo o mundo se junta, é incrível”, referiu o curador à Lusa.

A ideia de uma mostra exclusivamente dedicada à música portuguesa dentro do próprio festival IN-EDIT, “a primeira dedicada a um país” nos 17 anos de história do evento, fundado em Barcelona, em 2003, surgiu a partir do número de inscrições crescentes de filmes portugueses nos últimos anos, nas várias localizações do certame (Espanha, Chile, Grécia, Holanda e Brasil), que fez Aliche perceber que “está alguma coisa muito importante a acontecer” no que diz respeito ao documentário musical no país.

“Falei que tem de ter uma mostra sobre Portugal. Entrámos em contacto com a Connecting Dots, uma agência de música de São Paulo que pertence a uma portuguesa, que nos colocou em contacto com o Instituto Camões e ajudou a viabilizar esta mostra. Temos recebido alguns filmes muito interessantes, alguns muito locais. É uma aproximação que tem de ser mostrada. Para nós foi importante, porque era evidente que tinha de acontecer”, revelou Marcelo Aliche.

Sobre o interesse do público brasileiro pela música portuguesa, o organizador do IN-EDIT lembra que “Portugal é o país da moda, não apenas no Brasil, mas no mundo inteiro” e que “a internet tem rompido barreiras” existentes entre as culturas musicais dos dois lados do Atlântico.

“Há uma admiração enorme por Portugal. Serve de exemplo para tudo o que é bom. E tem aparecido aqui muita música portuguesa, sim! Além dos Xutos [& Pontapés], que apareceram aqui nos anos 80 e 90, e estão representados na mostra com ‘Zé Pedro Rock n’Roll, têm aparecido coisas muito boas, como a Marta [Ren], do ‘soul’. Há Amália Rodrigues, claro, e outros grandes nomes do fado. O ‘kuduro’, que aparece aqui com muita força na década passada, com Buraka [Som Sistema]. Além de que nós também temos aqui muita cultura portuguesa, com netos, bisnetos e portugueses de pura cepa”, justificou à Lusa.

‘Nascido’ em Barcelona e atualmente presente em cinco países, o IN-EDIT “leva mais de 100 mil pessoas às salas de cinema” para assistir a títulos inéditos, mas este ano, devido à covid-19, será realizado totalmente ‘online’, “alcançando, pela primeira vez, espetadores em todo o território brasileiro”.

Aliche ficou “apaixonado” pelo formato de documentário musical quando vivia em Barcelona, decidiu arriscar levar o festival para São Paulo e “a coisa funcionou”, ao ponto de ir já para a 12.ª edição.

Cada país onde acontece o IN-EDIT tem a sua própria curadoria, independência e seleção de filmes, e apesar de Barcelona, a sede, ajudar muito “em contratações de filmes e em contactos com diretores”, o sucesso do festival baseia-se, também, em cada país saber “o que o seu público espera”.

Por isso, o festival continua a realizar-se, “apesar de o Brasil não estar a passar um momento bom em termos de cultura”, sempre um dos setores mais prejudicados em todo o mundo em tempo de crise.

“O pessoal não entende que [a cultura] dá um monte de trabalho, emprego, retorno publicitário. Não entendo como, na crise, a primeira coisa que cortam é a cultura, quando é um fator económico e social muito importante. A música, sem dúvida, é um dos valores mais poderosos do ‘soft power’ brasileiro e estragar isso é de uma ignorância atroz. A cara deste governo”, criticou.

Aliche apoia-se na expressão ‘soft power’, mais usada em relações internacionais, para recordar o poder de influência da cultura e da música brasileira, em particular, afirmado ao longo de décadas, em termos nacionais e internacionais.

A finalizar, Marcelo Aliche não escondeu o “sonho” de realizar o IN-EDIT, também em Portugal, mas explica que devido à natureza de pequenas associações e apoios do país, que leva a que seja necessário reunir várias entidades para montar um evento desta envergadura, teria de “morar em Portugal algum tempo”, mas não descarta outras possibilidades.

“É o meu sonho! Parece que Portugal está a chamar! Já tenho um sócio, mas ainda não encontrei o caminho certo. Mesmo que fosse com produtores daí… Já tentei, com um grande amigo, Tiago Miranda, que foi responsável na Moda Lisboa. Às vezes aparece uma oportunidade, mas depois não dá por algum motivo”, explicou à Lusa Marcelo Aliche, confiante que “um dia” chegará a oportunidade.

Fonte: Lusa

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